Política

06/05/2019 16:37

Bolsonaro diz que não há divisão entre militares e olavistas no governo: 'tudo é um time só'

Ex-comandante do Exército chamou Olavo de Carvalho de 'Trotsky de direita'. Após ataques ao vice-presidente e militares, ideólogo e escritor mirou ministro Santos Cruz

06/05/2019 às 16:37 | Atualizado 06/05/2019 às 16:40 Da redação/G1
Reprodução/G1

O presidente Jair Bolsonaro afirmou na tarde desta segunda-feira (6) após reunião com o ministro Paulo Guedes no Ministério da Economia que não há divisão entre ala militar e ala de apoiadores do ideólogo Olavo de Carvalho no governo. “Não existe grupo de militares nem grupo de olavos aqui. Tudo é um time só”, disse o presidente. Segundo Bolsonaro, há coisas "muito, mas muito mais importantes" para discutir no Brasil. “O que eu tenho falado é que, de acordo com a origem do problema, a melhor resposta é ficar quieto. Essa orientação que eu tenho falado", disse.

Mais cedo, o ex-comandante do Exército e atual assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Eduardo Villas Boas, escreveu em uma rede social que o escritor Olavo de Carvalho é um "Trotsky de direita" – intelectual de orientação marxista, Leon Trotsky foi um dos líderes da revolução russa de 1917 e um dos principais responsáveis por implementar o regime comunista naquele país. Na publicação, Villas Boas reagiu a ataques de Olavo de Carvalho nos últimos dias, nas redes sociais, ao ministro da Secretaria de Governo, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz.

O episódio foi mais um da crise entre dois dos principais grupos dentro do governo: os militares e os seguidores de Carvalho, ideólogo do bolsonarismo e próximo dos filhos de Bolsonaro e do próprio presidente. Indagado se o ministro Santos Cruz, segue tendo respaldo, Bolsonaro respondeu: "Completamente”. Perguntado também se “está vendo” Santos Cruz “sofrer”, o presidente disse que acompanha o caso. “Estamos em uma guerra. Eles, melhores do que vocês, estão preparados para uma guerra”, disse. Antes de mirar o ministro, Olavo de Carvalho já havia trocado farpas com o vice-presidente Hamilton Mourão, outro general do Exército, e dirigido ataques à "ala militar" do governo, sem citar nomes específicos.

"Mais uma vez, o senhor Olavo de Carvalho, a partir de seu vazio existencial, derrama seus ataques aos militares e às FFAA [Forças Armadas], demonstrando total falta de princípios básicos de educação, respeito, humildade e modéstia", escreveu Villas Boas. No último dia 26, o Clube Militar, associação privada que reúne oficiais, divulgou uma nota de desagravo aos militares que fazem parte do governo de Jair Bolsonaro, na qual, sem citar nomes, critica o escritor Olavo de Carvalho. Segundo o texto, assinado pelo coronel Sérgio Paulo Muniz Costa, os militares estão sendo “atingidos pela incontinência verbal que, impune, prospera inexplicavelmente em distintas esferas de poder”.

Para o general Villas Boas, o escritor, que vive nos Estados Unidos, busca "acentuar as divergências" em um momento no qual a sociedade precisa "recuperar a coesão". "Verdadeiro Trotski de direita, não compreende que substituindo uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros. Por outro lado, age no sentido de acentuar as divergências nacionais no momento em que a sociedade brasileira necessita recuperar a coesão e estruturar um projeto para o país", escreveu o ex-comandante do Exército.

No início do mês passado, Santos Cruz fez críticas ao uso de redes sociais e defendeu "ajuste" na comunicação do governo. Ele afirmou que não se pode conversar somente por meio de redes sociais. "As pessoas precisam conversar, não podem conversar [só] por mídia social, nada substitui a relação pessoal. Apesar de toda facilidade das mídias, não substitui a conversa pessoal", disse o ministro na ocasião. Neste domingo (6), Santos Cruz se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro na residência oficial do Palácio da Alvorada.

O ministro não falou com a imprensa após o encontro. Villas Boas, que passou o comando do Exército para o general Edson Pujol em janeiro, é um dos interlocutores do presidente no governo. Logo que assumiu a Presidência, Bolsonaro afirmou que o general era um dos responsáveis por ele ter chegado ao Palácio do Planalto. Em 22 de abril, por meio do porta-voz oficial, Otávio do Rêgo Barros, Bolsonaro afirmou que as declarações de Olavo "não contribuem"para o governo.

"O professor Olavo de Carvalho teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fez ao nosso país. Entretanto, suas recentes declarações contra integrantes dos poderes da República não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento dos objetivos propostos em nosso projeto de governo", afirmou Bolsonaro na nota lida pelo porta-voz. Na ocasião, o presidente disse ainda ter "convicção" de que Olavo de Carvalho "está tentando contribuir com a mudança e com o futuro do Brasil".