Polícia

29/05/2021 15:15

Serial killer que matou campo-grandense estava curtindo ‘fama’, diz polícia

“Ele estava sentindo prazer nas mortes que estava praticando", destacou o delegado Thiago Nóbrega, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa

29/05/2021 às 15:15 | Atualizado 29/05/2021 às 14:38 Diana Christie
Assassino foi preso neste sábado - Divulgação/PC

O assassino em série (serial killer) José Tiago Correia Soroka, 33 anos, estava curtindo os ‘cinco minutos de fama’, segundo a polícia. Ele foi preso na manhã deste sábado (29), suspeito de matar três homens gays em Santa Catarina e no Paraná, entre eles o estudante campo-grandense  Marco Vinício Bozzana da Fonseca, 25 anos.

“Ele estava sentindo prazer nas mortes que estava praticando. Não sei que sentimento isso estava causando nele, adrenalina, emoção…, mas, de certa maneira, estava gostando do que estava fazendo. Até se vangloriou que era serial killer, que estava aparecendo na televisão e estava famoso. Não mostrou arrependimento, estava gostando”, explicou o delegado Thiago Nóbrega, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

As informações são site Ric Mais, extraídas durante coletiva de imprensa no fim da manhã de hoje. Conhecido como "Japa", José Tiago foi encontrado pela Polícia Civil em uma pensão no bairro Capão Raso, em Curitiba (PR). Ele foi identificado com a ajuda de uma quarta vítima, que sobreviveu, e imagens registradas por câmeras de monitoramento auxiliaram na prisão. Ele não resistiu à abordagem.

Segundo o delegado, José já esteve preso por dois roubos de carro e uma vez por uso de moeda falsa, mas conseguiu liberdade provisória em seguida e até decidiu começar a trabalhar registado legalmente. No entanto, foi mandado embora porque faltava muito ao trabalho para usar drogas e começou a praticar os crimes contra homossexuais. Desde então, passou a se mudar frequentemente de lugar, a cada 10 ou 15 dias.

Perfil de serial killer

Nóbrega enfatizou que não é psicólogo, porém a equipe policial analisou que Soroka é uma pessoa fria, muito inteligente, não demonstra sentimentos, e que aparentava ser uma pessoa gentil para as pessoas de seu convívio. “Inteligente, entende de informática, de vários outros assuntos. Poderia se dar bem em outros trabalhos. Mas se ocupou com a prática de crimes”, lamentou.

Soroka confessou os três assassinatos, mas apontou que praticava os crimes para sobreviver, dando a entender que seu objetivo era o crime contra o patrimônio (como furtar e roubar) e não contra a vida (praticar homicídios). Ele estabeleceu a meta de cometer um crime por semana – afirmou que matar sempre às terças-feiras foi mera coincidência – e que a cada vítima que fazia, conseguia levantar entre R$ 4 mil a R$ 6 mil. Ele gastava tudo com coisas supérfluas e consumo de drogas, principalmente cocaína.

Entre os objetos que ele costumava levar das vítimas, estão notebooks, celulares, correntes de ouro, caixas de som, videogames, entre outras coisas de valor que encontrava. O criminoso confesso ainda disse que se via a possibilidade de alguém chegar ao local ou escutar barulho, ele não levava nada e abandonava o local imediatamente para não ser pego. Mas quando era um local que parecia que ninguém ouvira nada, ele ficava com mais calma analisando os objetos e o que levaria.

A preferência por abordar homossexuais seria suposta facilidade de marcar encontros em casa, já que seria mais difícil entrar em casa de mulheres. Ele confessou que tinha perfis falsos em vários aplicativos de relacionamentos e que às vezes usava fotos falsas, tiradas da internet. Ele ficava online em todos, delimitava a região e ficava esperando que alguém chamasse para conversar.

Era costume chegar na casa das vítimas e fingir “esquentar o clima”. Ele pedia para que a vítima tirasse a roupa e ficasse de costas para ele, quando aplicava o mata-leão, golpe que ele afirmou que “nunca dava errado”. Se a vítima apenas desmaiasse, ele ia embora sem matar, levando o que quisesse. Mas, se a pessoa reagisse, ele a esganava até a morte, para depois roubar.

A polícia tem conhecimento de crimes a partir de 2018, mas não descarta que existam delitos anteriores. “Pode ser por vergonha das vítimas em denunciarem, ou até medo, por causa da violência dos crimes cometidos”, disse o delegado. Soroka afirmou à polícia que só confessaria os crimes dos quais a polícia já tem conhecimento.

Assassinato por dinheiro ou homofobia?

O acusado não quis falar sobre a vítima sobrevivente nem sobre a própria sexualidade. “Deu a entender que mexia com lado íntimo, a parte emocional dele, que ele tem, sim, algum problema com a homossexualidade. Se reservou a ficar calado, porque era algo que o incomodava muito”, disse.

“Talvez ele guardasse isso dentro dele, esse sentimento de incerteza, de não saber o que era. E acabava colocando isso pra fora quando praticava os crimes. Descontava nas vítimas homossexuais por não aceitar que ele também fosse homo ou bi. Disse em depoimento que nunca sofreu nenhum abuso sexual na infância. Mas também não deu muitos detalhes sobre esse período da vida”, explicou Nóbrega.

A equipe policial ainda não tem convicção plena de que os crimes trataram-se de latrocínio, como Soroka afirmou ser. “Tudo indica pela confissão dele, que não tem como fugir da questão patrimonial. Mas a gente tem essa dúvida com relação a motivação principal, se foi mesmo patrimonial ou se foi crime contra a vida. Se a gente concluir as investigações de que foi pela questão patrimonial, será indiciado por latrocínio, que é uma pena tão grande quanto homicídio. Mas se for homicídio, o indiciamento acumulará também com a questão patrimonial”, afirmou o policial.

Vítimas

Entre as vítimas está o professor universitário Robson Paim, 36 anos. Ele foi encontrado sem vida por familiares em sua casa no município de Abelardo Luz, no Oeste de SC. Robson era professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e doutorando em Geografia na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).

Os assassinatos seguintes aconteceram no Paraná. O primeiro deles foi no dia 27 de abril. O enfermeiro David Júnior Alves Levisio, 30 anos, foi encontrado morto no próprio apartamento em Curitiba. Ele estava com as mãos amarradas.

A outra morte foi registrada no dia 5 de maio. O estudante de medicina Marco Vinício Bozzana da Fonseca, 25 anos, foi encontrado com sinais de esganadura. O caso também aconteceu em Curitiba.