Polícia

23/07/2017 12:35

Comerciante presa na Operação Cidade Tranquila confronta BO e diz que foi agredida por policiais

Grazielle usou as redes sociais para contar sua versão sobre ocorrência próximo à UFMS

23/07/2017 às 12:35 | Atualizado Liziane Berrocal
Reprodução

A comerciante Graziele Soares dos Santos das Neves, de 43 anos, usou as redes sociais para confrontar as informações do boletim de ocorrência sobre a atuação policial ocorrida em frente ao bar de sua propriedade nas proximidades da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Segundo ela, as informações divulgadas no documento lavrado pelos policiais contrastam com a realidade já que os militares teriam agredido tanto a empresária quanto a advogada Rosemeire Rodrigues Martins. 

De acordo com a mulher, os policiais teriam lhe agredido com puxões e xingamentos como “vagabunda”, “vadia” e “mulherzinha”. Em seu relato, que já foi compartilhado por aproximadamente 800 pessoas, Grazielle narrou o que chamou de 'revoltante' e garantiu que, em momento nenhum, os policiais se identificaram. 

“Ontem, por volta das 23h na Rua Montese, 265, próximo à UFMS, mais precisamente no Bar Batata+, tudo corria normalmente, até porque a PM estava no local fazendo seu lindo trabalho que é proteger e orientar clientes e acadêmicos que frequentam este local, onde há quatros virou ponto de encontros das atléticas da UFMS e outras universidades. O que nós não esperávamos é que minutos depois chegasse o choque com toda sua educação, jogando bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e etc. Eu saí em defesa das minhas atléticas e de meus clientes, que ali ainda se encontravam no local, perguntei ao comandante se havia necessidade de tal “educada” abordagem. O mesmo me respondeu educadamente “O que eu estava boquejando”, eu disse a ele que não estava boquejando , e sim perguntando sobre tal abordagem tão educada, já que eu tenho toda documentação correta e necessária para funcionar até 00h”, narrou ela sobre o funcionamento do bar de sua propriedade. 

Segundo Grazielle, foi aí que tudo começou. “O comandante não identificado me perguntou quem era eu, sendo que ele mais que ninguém sabe quem sou eu, mas mesmo assim respondi que eu era a proprietária daquele local. Em nenhum momento ele pediu a documentação do local, até porque ele sabe que está tudo certo. No meio da conversa um comandado também, sem identificação, falou para o comandante “Não perde tempo com essa mulherzinha”. Eu não entendi e perguntei o porquê estavam falando comigo dessa forma, sendo que em nenhum momento eu tinha faltado com respeito a algum deles. O comandante sem nome pediu meu RG eu disse que não ia dar, mais sabe o por quê?”.

Ela explicou que os policiais todas as semanas vão ao estabelecimento, a conhecem e agiram de forma arbitrária. “Esses mesmo policiais vão ao Batata + quase todas as sextas e os mesmos me conhecem. Naquele momento recebo voz de prisão, e ele como sempre “bem educado”, me jogou dentro de um camburão. Há aproximadamente 15 minutos após eu estar dentro do camburão, escutei uma voz de uma mulher alegando que eles estava machucado muito ela, em seguida a porta do camburão se abre, e para minha surpresa vi quatro policiais agredindo a mesma com enforcamento e um tapa no rosto. Tentei argumentar para que não fizessem isso com ela, pois se tratava de uma mulher, e os mesmos se direcionaram a mim com nomes de baixo nível. “Cale a boca sua vadia vagabunda”, eles disseram, e em seguida jogaram ela no mesmo camburão que eu estava, perguntei quem ela era e ela me disse que era advogada e que eles estavam com a sua OAB.”, denunciou sobre a presença de Rosemeire junto dela. 

“Seguimos sem entender tudo o que estava acontecendo, passando alguns minutos a viatura onde nós estávamos saiu em alta velocidade. Começaram a fazer manobras, e nós éramos jogadas de um lado para outro sem poder nos proteger. Deitei no assoalho do carro para ver se parava de ir ao teto e aos lados, e pra minha indignação eles riam e gritavam pra nós ouvirmos “Tá bom ai suas vadias? Vocês vão ter o que merecem”, confesso que fiquei com muito medo, mas a Rose muita calma me acalmava também", disse. 

"Enfim, chegando a delegacia eles abriram a porta do camburão e arrastaram a Rose pelo cabelo, “muito educadamente” e chamando ela de vagabunda. Em seguida viraram pra mim e disseram, educadamente “Você vai descer ou você quer ter o mesmo tratamento?”, eu disse que estava pegando minha xuxinha, no momento dois policiais vieram pra cima de mim e me arrastaram pra dentro de uma salinha e falaram “Fica aí sua vadia”. Em seguida fomos algemadas e “educadamente” o comandante gritou “Senta no chão suas vagabundas!”, nos recusamos sentar, e eu disse “Vou ficar bem de pé”, ele não aceitou a minha posição e “educadamente” me passou uma rasteira e me derrubou, em seguida fez o mesmo com a Rose”, denunciou sobre mais agressões sofridas. 

Comerciante desmente BO

Segundo ela, os homens continuaram a debochar quando elas pediram para chamar um advogado e novamente chamaram Rosemeire de vagabunda. A ação teria sido feito por nove policiais, todos sem identificação. “Chama ai o advogadinho delas, ou melhor, chama não, aqui já tem essa vagabunda e advogada defende ela e você”, e sorriam. Minha alma está muito ferida, porque não consigo entender tanta truculência com duas mulheres que nada poderiam fazer contra eles, até porque tinham NOVE policiais, totalmente armados cuidando da gente naquele local”, continuou a narrativa. 

Grazielle viu então uma matéria publicada pelo TopMídiaNews onde dizia exatamente o que constava no BO, mas que foi desmentido por ela. “A moça que foi presa junto comigo não era minha advogada, a conheci, infelizmente, nesta situação. Esse foi o desabafo de uma mulher que sempre trabalhou das 7:30h até as 00h para sustentar sua família, e não a vagabunda, o qual fui chamada por esses senhores que deveriam proteger as pessoas e não atacar. Eu pergunto para quem possa me responder, que sistema é esse? ”, questionou. 

A postagem com vários compartilhamentos também teve depoimentos de supostas testemunhas que teriam visto o fato acontecer e de apoio às duas mulheres. 

Versão policial

O TopMídiaNews recebeu imagens da operação realizada na noite de sexta-feira (21), em que é possível avistar duas viaturas com as sirenes e giroflex ligadas, e ao fundo barulho de explosões, além de diversos militares gravando a operação com aparelhos celulares.

Conforme o registro policial, a dispersão ocorreu em frente ao Bar do Batata, como parte da Operação denominada Cidade Tranquila, que foi comandada pelo sub comandante da 6° Cia da Polícia Militar, Major Paulo. Ele teria solicitado apoio de equipes do Batalhão de Choque, onde antes de acionar as equipes, havia tentado normalizar o ambiente, porém, "não lhe restando alternativa, a não ser utilização dos meios de uso moderado da força".

* Matéria alterada às 14h50 para correção de informações