Política

05/09/2018 17:43

"Bola está na mão do STF", diz Haddad sobre candidatura de Lula

Defesa do ex-presidente pediu ao STF que a recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU pela manutenção dos direitos políticos de Lula seja cumprida pelas autoridades brasileiras

05/09/2018 às 17:43 | Atualizado Reuters
Ricardo Stuckert

O candidato à vice-presidente pelo PT, Fernando Haddad, disse nesta quarta-feira que a “bola está na mão do STF”, ao falar sobre a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ressaltou que só mesmo o Supremo Tribunal Federal poderia desacatar a ONU (Organização das Nações Unidas).

“Como tem um pedido de liminar, eu acho que a bola está na mão do STF e nem poderia ser diferente. Num assunto em que a ONU se manifestou, só o Supremo para desacatar a ONU em função do seu entendimento sobre a validade ou não do tratado internacional”, disse o candidato à vice após evento na fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP), berço do PT.

“Acima do Congresso, só o Supremo Tribunal Federal. No nosso entendimento, o TSE é uma instância importante, a última na esfera eleitoral, mas a última palavra tem que ser dada pelo Supremo”, afirmou Haddad, acrescentando que o PT não trabalhou com outra hipótese senão a de recorrer ao Supremo.

A defesa do ex-presidente pediu ao STF que a recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU pela manutenção dos direitos políticos do ex-presidente seja cumprida pelas autoridades brasileiras e, na prática, permita que ele permaneça na disputa ao Palácio do Planalto. Nesta quarta-feira, a ação foi distribuída ao ministro Edson Fachin.

Na madruga de sábado, o Tribunal Superior Eleitoral barrou a candidatura de Lula com base na Lei da Ficha Limpa, uma vez que o petista foi condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro no processo do tríplex do Guarujá (SP). O ex-presidente alega inocência.

Questionado se a indefinição não atrapalha as chances de sucesso de uma candidatura presidencial petista, o ex-prefeito de São Paulo negou.

“Nunca pensamos nessa questão de cálculo eleitoral colocando de lado valores em que a gente acredita, sobretudo a liderança do Lula e a nossa completa convicção de que ele era a pessoa talhada para tirar o país da crise”, afirmou Haddad, que fez campanha na região do ABC Paulista.

Segundo fontes ouvidas pela Reuters, o PT já começou a organizar a transição da candidatura, mas está aguardando um aceno definitivo de Lula, o que só deverá ocorrer após a decisão do STF.

Denúncia

Ao ser indagado sobre a denúncia contra ele pelo Ministério Público de São Paulo na véspera de corrupção e lavagem de dinheiro na campanha para a prefeitura paulistana em 2012, Haddad criticou a postura do MP, argumentando que hoje o alvo foi o presidenciável do PSDB e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

“Hoje eu ouvi que entraram contra o Alckmin também. Eu tenho um entendimento que o Ministério Público é importante demais para ter esse tipo de postura, de se deixar usar eleitoralmente, para um lado ou para o outro”, afirmou o petista, acrescentando que, no seu caso, o MP se deixou usar para uma “vingança de um empresário contra” ele.

O ex-prefeito foi denunciado suposto recebimento de 2,6 milhões de reais de uma empreiteira para pagamento de dívida de campanha, mas também já havia sido alvo de uma ação de improbidade na semana passada.

Nesta quarta-feira, MP de São Paulo apresentou uma ação de improbidade administrativa contra Alckmin em um caso que trata de supostas doações em caixa 2 em sua campanha à reeleição para o governo de São Paulo em 2014. A assessoria do tucano disse que o promotor “sugere algo que não existe”.

Mais cedo, Haddad caminhou pelo centro de Diadema junto a outros candidatos do PT. Ao som de gritos de militantes e apoiadores que se mostravam divididos, cantando músicas colocando Lula como presidente ou colocando Haddad na cabeça de chapa.

Num breve discurso, o ex-prefeito de São Paulo disse que “parece que o PT vai ganhar por W.O. no Nordeste”, uma vez que os adversários não estão indo às ruas num quadro de forte preferência do eleitorado da região por Lula.

Para algumas lideranças tucanas, Alckmin deveria deixar o Nordeste de lado neste momento e se concentrar em garantir a vitória “em casa”, nas Regiões Sul e Sudeste.

Na última pesquisa Datafolha, o ex-presidente tinha 59% das intenções de voto na região. Já em cenários sem o ex-presidente e com Haddad, o ex-prefeito somava apenas 5 pontos percentuais.