Trajeto de peregrinação brasileiro inspirado em Santiago de Compostela, o “Caminho da Fé” é um dos destinos mais procurados por quem deseja percorrer uma jornada de autoconhecimento e de superação de limites.
Com foco na devoção a Nossa Senhora Aparecida e na fé católica, o trajeto reúne milhares de peregrinos que, à pé ou de bike, tem como destino o município de Aparecida, interior paulista, onde está localizada a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, Santuário que abriga a imagem original da Santa brasileira encontrada por pescadores no rio Paraíba do Sul, no início do Século XVII. Marcado por histórias de fé, por belezas naturais, pela hospitalidade e simplicidade locais, o “Caminho da Fé” foi o trajeto escolhido por um grupo de 21 ciclistas de Nova Andradina e região que, durante sete dias, percorreu mais de 430 quilômetros.
“O caminho nos leva isso: Quando a gente menos espera, está no topo, tirando foto e feliz da vida. É quando percebemos que as histórias que ouvimos nos deram força para chegar ao destino, um momento intenso, marcado por uma emoção muito forte”, relata o contador Walter Aparecido Bernegozzi, de 66 anos, que percorreu o caminho pela primeira vez. Ele, que visita ao menos duas vezes por ano Santuário, conta que a nova experiência ficará marcada em sua trajetória.
Ciclista integrante do Bike Clube Pata de Onça, Bernegozzi dedica cinco dias da semana à prática do ciclismo e acredita que, mais que saúde, o esporte propicia amizades sólidas e que proporcionam uma convivência em família. “Inspirados no trajeto dos irmãos Liberato, a gente programou o caminho da Fé por mais de oito meses. Teve toda uma logística que precisou ser organizada, além de uma estrutura de apoio montada. Mesmo tendo uma ideia de como seria percorrer o trajeto, nada supera o que a gente sentiu, o que a gente viveu nesses dias”, relata.
Tendo como ponto de partida o município paulista de Tambaú, localizado na divisa com o Estado de Minas Gerais, foram 75 quilômetros de percurso até a cidade de Vargem Grande do Sul. Rumo a Andradas, município mineiro, foram mais 75 km, seguidos por outros 58 km até Inconfidentes, também em Minas. O grupo completou ainda, o trajeto Inconfidentes a Estiva (60 km), Estiva à Brasópolis (65km), Brasópolis a Campos do Jordão (35 km), finalizando o trajeto em Aparecida (60 km).
O advogado Walter Aparecido Bernegozzi Júnior, de 44 anos e um dos fundadores do Bike Clube Pata de Onça também destacou as surpresas proporcionadas pelo “Caminho da Fé”. “Mesmo indo a Aparecida todos os anos, fazer o caminho foi uma experiência incrível. Como o alvo era chegar à basílica, saímos com isso na cabeça e preparados, pois nos reuníamos em um momento de oração a cada manhã”, afirma o advogado, que teve como objetivo pessoal, agradecer à Nossa Senhora Aparecida pela vida da filha Gabriela e da esposa Marcia, que teve complicações no parto há quase 15 anos.
“Esse ano foi bem mais especial, pois fiquei seguindo esse caminho por sete dias. Foi muito bonito. O lugar te proporciona introspecção e muita paz. A gente fica em contato constante com as montanhas, com a natureza. Cada um tentando se superar e recarregando as energias para voltar para casa”, conta o advogado, que na chegada à Basílica, reencontrou a filha Gabriela. “Momento muito emocionante. Mesmo tentando se segurar, a gente chorou muito na chegada à basílica”, relembra.
Conhecer o roteiro turístico da região e explorar sua espiritualidade também fez parte dos propósitos do médico veterinário Mauricio Vaz, de 40 anos. A cirurgia de retirada de um nódulo e a possibilidade da confirmação de um câncer, na esposa, foi uma das motivações para o desafio de fazer o percurso de 430 km. “Mais que os objetivos e a fé de cada um, também experimentamos momentos de provação, como a queda do Caco”, conta Vaz, ao mencionar a queda grave sofrida pelo advogado Luiz Claudio Lima, entre grandes pedras e um trecho de descida íngreme, momento de maior preocupação do grupo.
“Foi sem dúvida um dos momentos mais marcantes, pois sentimos a proteção de Nossa Senhora. Além de viver e compartilharmos em grupo essa energia muito forte, também ouvimos histórias e milagres durante todo o percurso e por cada igreja que passávamos”.
Para a viagem, os ciclistas contaram com três integrantes de apoio, dois deles dedicados à manutenção das bicicletas e assessoramento aos ciclistas, além do motorista da Van de transporte de ida e volta entre Nova Andradina até Tambaú. A estrutura, possibilitou a reposição de água e alimentação aos ciclistas peregrinos, além do transporte das malas e equipamentos para manutenção das bikes. O trajeto, posicionado por meio de pontos de parada, foi dividido pelos dias de pedalada, sete no total. Já as pousadas, destinadas ao descanso e pouso noturno também foram planejadas e marcadas antecipadamente. Dos 21 ciclistas, apenas três mulheres percorreram o caminho: Eliana Gonçalo (Tuca), Iracelis Becegato e Cidinha Ferreira.
Quanto à possibilidade de o “Caminho da Fé” integrar o calendário do Bike Clube Pata de Onça, já está confirmada. O grupo também trabalha na organização do Circuito do Vale Europeu, na Serra Catarinense, próximo destino de cicloturismo do Pata de Onça.
