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25/11/2013 17:13

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De político a 'pé-de-chinelo', bar mantém tradição com feijoada há mais de 50 anos

História

Alguma coisa acontece no meu coração - a esquina não é entre a Ipiranga e a Avenida São João, como relata a música Sampa, composta por Caetano Veloso em 1978, mas sim entre as ruas Jornalista Belizário Lima e 24 de Outubro, localizada na Vila Glória, em Campo Grande. Porém, os dois locais se correlacionam ao tomar como ponto de referência, bares de renome e tradição. Tal qual o Bar Brahma em São Paulo, o Vitorino's, sem dúvida, é o mais tradicional da capital sul-mato-grossense.

Se Caetano, oriundo da Bahia, assustou-se com prédios e a loucura da maior cidade cosmopolita da América do Sul, Vitorino Martos Caetano Fonseca, 63, encontrou um cenário desabitado e inóspito quando chegou a Campo Grande vindo de Algarve, Portugal, com os pais e o irmão em 1955. Mais tarde, o caçula nasceria já em terras brasileiras.

"Quando chegamos aqui não tinha nada, era tudo terreno baldio. Havia umas duas ou três casas ao redor e aqui decidimos começar a construir. Só existia o Cemitério Santo Antônio e era uma dificuldade chegar lá, quase uma viagem", conta Vitorino.

O Bar - Há 58 anos, a família de origem portuguesa encontrou na Cidade Morena (mais morena naquela época pela falta de asfaltamento) um lar, um modo de ganhar a vida e muitos amigos que fez ao longo de todos esses anos. O pai de nome homônimo, Vitorino Fonseca, desbravou o mercado local juntamente com a mãe, Maria José Caetano.

"Ele comprou um bar que ficava em frente ao Mercado Municipal que ainda nem existia nessa época. Em 1959, voltamos para a Belizário e ficamos até 1969. Depois, abrimos a Cantina do Vitorino, que ficava na Rua Cândido Mariano, entre as ruas 14 de Julho e 13 de Maio, em frente ao Rio Hotel, o mais famoso da cidade naquele tempo", relata o dono do bar.

A família tocou a cantina durante 29 anos. Seu Vitorino Fonseca faleceu em 1996 e no dia 14 de agosto de 1998, o primogênito reabriu o bar no endereço antigo, na Jornalista Belizário Lima, onde funciona até hoje.

 

O ponto comercial - O entorno onde está o bar do Vitorino não é uma área valorizada comercialmente, pois dista do centro. Diferente dos outros bares da Capital que se aglomeram próximos uns dos outros, tais como os da Avenida Afonso Pena, o Vitorino's é ilhado por casas numa área mais residencial.

Porém, o proprietário não se sente ameaçado . "O ponto é irrelevante diante da tradição que o bar tem. Estamos na terceira geração trabalhando aqui e temos clientes que já estão na quarta geração. O nome foi criado pelo pai e ele lutou bastante para o bar ser conhecido. Aqui fico tranquilo, pois minhas filhas podem dar sequência ao trabalho."

A tradição da feijoada - Aos sábados, o Vitorino's Bar e Restaurante serve a mais antiga feijoada da cidade. A partir das 10h30, os clientes já começam a chegar. Um grupo de senhores "anônimos", que não quiseram se identificar, relatam suas experiências no Vitorino's.

Um deles solta o elogio entre goles de cerveja gelada: "Aqui vem pai com filho, vereador, vendedor, advogado, senador e pé-de-chinelo, ou seja, a sociedade de mamando a caducando. Há 40 anos sou frequentador, desde a época em que o finado Vitorino ainda comandava o bar. Aqui todo mundo se comporta. Tem petisco, cerveja, bate-papo bom e um sambinha dez... O único defeito é que não tem vista pro mar. Não tem como não virar cliente fiel."

Vitorino conta como começou a tradição da feijoada aos sábados: "desde o final da década de 50, meu pai começou a servir a feijoada no bar. Existia a feijoada do Hotel Campo Grande e a do Aeroporto, que não existem mais. A do Hotel Gaspar também acabou. Hoje, seguramente é a mais tradicional de Campo Grande."

 

Reduto político - Às 11h30, André Puccinelli chegou ao bar alegre e cumprimentando a todos. Questionado sobre sua relação com o Vitorino's, o governador foi enfático: "Aqui é o point da política. O reduto da boca maldita", fala Pucinelli em tom de ironia. De fato, o bar é muito frequentado pela classe política da Capital.

O segredo da longevidade - Vitorino sabe por que seu bar é tão longevo diante da alta estatística de pequenas empresas que fecham as portas antes de completar dois anos. "Realmente, a carga tributária é muito alta. Mas a gente não pode ter preguiça de trabalhar. Essa dedicação exclusiva eu herdei do meu finado pai. Aqui todos trabalham muito. Trato todos os clientes da mesma forma. O sucesso é consequência."

Vitorino desabafa emocionado sobre a luta que a família travou pelo êxito do empreendimento. "Durante décadas, abria o bar às 4h da manhã e fechava às 23h. Eu e minha família lutamos muito e hoje vejo que o esforço recompensou", diz com a postura de quem comanda o bar mais boêmio da cidade.

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