São mais de nove décadas de vida e memórias que caberiam em livro de muitas páginas. De Três Lagoas, então Mato Grosso, Agostinho Gonçalves da Mota foi mandado para combater na 2ª Guerra Mundial, na Itália, em 1944, aos 19 anos de idade. Hoje, aos 93, ele é um dos únicos sobreviventes brasileiros que fizeram parte direta daquele período histórico, mas de uma Europa devastada.
Voltou um ano depois, mas teve como presente de aniversário de 20 anos a notícia de que a batalha havia chegado ao fim, no dia 8 de maio de 1945, data que ficou conhecida como o Dia da Vitória. Suas lembranças trazem junto, em alguns momentos, as lágrimas pelo sofrimento de ter visto tantas vidas se perderem e toda a destruição, mas também pelo sentimento de orgulho de ser brasileiro.
"A coisa mais difícil foi ir, sem saber se ia voltar. Logo vimos a miséria, os navios afundados e as muitas mortes. Lá percebi que o povo brasileiro é o melhor do mundo, dávamos nossa comida, nossas coisas para os outros sem pensar que ia faltar para nós", conta, após palestrar aos alunos da Escola Municipal Antônio José Paniago, em Campo Grande.
A Força Expedicionária Brasileira foi instituída em agosto de 1943, com 25.334 brasileiros, pracinhas, enviados à Itália entre 44 e 45, por 239 dias, para lutar na Europa ao lado dos países aliados contra os totalitários do eixo nazifascista, Alemanha, Itália e Japão. 74 enfermeiras e ao menos uma dezena de indígenas de MS também participaram.
Ele relembra que os momentos mais difíceis foram as lutas pela sobrevivência, ao frio de -20ºC e aos bombardeios, estouros que acabaram por afetar gravemente sua audição. "A guerra é a coisa mais bárbara que existe, uma ignorância e egoísmo da Alemanha", condena.
Para o Brasil, a guerra deixou 1.532 mortos, 2.700 feridos, 35 prisioneiros de guerra, 23 extraviados, 35 navios afundados e morte de inúmeros seringueiros que morreram na Amazônia em busca da borracha que alimentava a indústria bélica dos países aliados.
Ao voltar em recepção 'espetacular' no Rio de Janeiro, imaginava que sua vida ganharia rumos de estabilidade e felicidade na terra natal. Mas o que se seguiu ao longo dos anos foi o abandono e a tentativa de outros empregos braçais em Campo Grande e interior paulista.
Agostinho nunca colocou os pés na Itália novamente, apesar de ter sempre nutrido o sonho de voltar. Hoje ele vive na Capital de Mato Grosso do Sul, ao lado da esposa Orlandina, com quem é casado há 70 anos, tem três filhos e três netos.
História a preservar
Coronel da reserva, vice-presidente da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (Anfbev), Wellington Santos, tem amizade antiga com o combatente. “Logo que vim do Rio de Janeiro o conheci, e a cada dia conheço mais, com uma história que os jovens precisam ter contato para construir o futuro, respeitar os mais velhos”, diz.
A associação é presidida por Agostinho e foi fundada em 16 de julho de 1963, no Rio de Janeiro, para valorizar e aproximas os veteranos e suas famílias, garantindo a memória. Direitos aos ex-combatentes, entre eles a valorização pelo título no livro Heróis da Pátria, do Panteão da Pátria e Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.