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Sem medo, Tereza escolheu ser auxiliar de pedreiro aos 51 anos e ama o que faz

Ocupada principalmente com afazeres domésticos e "ajudando" o marido sempre que possível, Tereza mudou de vida durante separação

  • Tereza se diz apaixonada pela profissão
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Ocupada principalmente com afazeres domésticos e "ajudando" o marido sempre que possível, Tereza Moreira, de 53 anos, mudou de rumos. Enfrentando um processo de separação, com filho e uma casa para sustentar, ela resolveu enfrentar o mercado de trabalho formal pela primeira vez na vida e se tornou auxiliar de pedreiro.

A escolha pelo trabalho pesado e predominantemente masculino não foi por necessidade, mas por vontade própria. Tereza se diz apaixonada pela profissão. "Meu ex-marido é pedreiro e eu sempre o ajudei na construção, mas nunca trabalhei para fora. Quando me separei, resolvi me tornar servente de pedreiro, já que era algo que sempre gostei", explica.

Tereza conta que casou nova e a vida toda foi dona de casa. O marido nunca a deixou sair para trabalhar no mercado formal, então sempre ficou em casa cuidando dos três filhos e da residência. Para não ficar parada e complementar a renda, ela diz que vendia de tudo o que podia no próprio imóvel. "Eu estava sempre fazendo algo. Nunca gostei de ficar parada", afirma.

Moradora no bairro Jardim das Hortênsias, ela revela que mora há pelo menos 30 anos no local e que a casa atual já está bem diferente do que era originalmente. Com cômodos a mais e muitas reformas, todas as obras foram feitas pelo ex-esposo com o auxílio de Tereza.

"Essa casa só tinha a sala, cozinha, banheiro e dois quartos. Aos poucos, meu ex-marido foi aumentando, mas era ele sozinho fazendo tudo. Isso demorava, ele ficava desanimado por trabalhar sozinho, então comecei a ajudá-lo. Assim, aprendi muito e muitas coisas acabei fazendo sozinha", detalha.

Porém, aos 51 anos, tudo mudou. Tereza se separou do marido e, pela primeira vez na vida, se viu sozinha a frente do sustento da casa. Livre para escolher, ela então resolveu trabalhar com o que gostava e se tornou servente de pedreiro. "Sempre gostei da profissão, desde quando ajudava meu ex-marido. É algo que faço com vontade, com amor", complementa.

Tereza diz que no começo muitos estranharam e viram a ideia com desconfiança. A maioria acreditava que seria incapaz, outros que não era uma profissão para uma mulher, por ser um serviço pesado, mas ela não desistiu. Segundo ela, uma das principais resistências estava na própria família.

Preocupados com a mãe, os filhos não apoiaram muito a empreitada. "Eles acham a profissão muito pesada. Ficaram preocupados e queriam que eu trabalhasse com outra coisa, então eu menti e disse que apenas fazia a limpeza nas obras, mas eu fazia era de tudo", revela aos risos.

Sem medo, Tereza seguiu em frente. No primeiro trabalho, ela ajudou a levantar uma casa inteira. "Carregava pedra, areia, fazia massa, carregava tijolo, chapiscava, derrubava parede, retirava entulho, ajudava na construção do telhado… fazia tudo o que faz um servente".

Desde então, Tereza se tornou respeitada na área e requisitada. "Os próprios donos das obras pediam para que os pedreiros me chamassem porque eles gostavam do meu serviço. Sempre prestei atenção aos detalhes e gostava de manter o ambiente de trabalho limpo e isso acabou sendo um diferencial", explica.

Conforme revela, a presença dela na obra acabava trazendo segurança às mulheres que contratavam o serviço do pedreiro. Outro quesito, era o próprio serviço que realizava, sempre bem feito e com zelo. Isso, a gerou muitas amizades que carrega até hoje. "Fiz amizade com muita gente, tanto da construção civil, quanto com os próprios proprietários. Sou amiga de todos eles".

A rotina, no entanto, era pesada. Tereza acordava às 4 horas da manhã, pegava ônibus até a obra, onde começava o expediente às 7 horas. Às 17 horas terminava o laboro, enfrentava novamente o transporte público para agora começar a segunda jornada do dia como dona de casa.

"Eu chegava do serviço, às 19 horas, e ainda ia fazer janta, limpar a casa, preparar a marmita para o outro dia e fazer as atividades domésticas. Às vezes acordava ainda mais cedo para limpar tudo e só então ir trabalhar".

Mesmo com a tripla rotina, Tereza explica que não se sentia cansada. "Acho que por gostar da profissão, nunca me senti cansada. Pelo contrário, adorava a vida que tinha. Tenho muito orgulho da minha profissão".

No entanto, após dois anos trabalhando como servente, Tereza precisou parar. Ela revela que acabou contraindo Leishmaniose e, devido à doença, foi proibida de trabalhar.

"Eu peguei leishmaniose no ano passado. Fui ao médico e ele me perguntou com o que eu trabalhava. Menti e disse que sou diarista. Ele então me disse que não posso pegar peso e me proibiu de trabalhar. Imagine se soubesse que eu era servente?", conta aos risos.

Tereza conta que continuou na profissão ainda por alguns meses, parando definitivamente em novembro. Agora ela realiza algumas diárias como faxineira, porém planeja voltar a área que ama. "Pretendo me especializar. Fazer algum curso. Ainda estou vendo, mas tenho vontade de voltar para a construção civil. Não quero parar".

Mesmo não trabalhando mais como servente, Tereza disse que as amizades continuam e a paixão pela profissão também. Questionada sobre a área ser predominantemente masculina, ela aconselha que a mulher sempre faça o que goste, independente da opinião da sociedade.

"Nunca tive vergonha e sim orgulho, pois fazia o que gostava. A gente precisa fazer o que gosta. Não há trabalho só para mulher ou só para homem. O que importa é gostarmos do que fazemos", conclui.

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