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Cidades

Investigadores apreendem só 10% da droga que passa em MS, revela diretor da Polícia Civil

Marcelo Vargas acha ainda irrelevante prender 'mulas'; investigação deveria focar em chefões do tráfico

13 agosto 2018 - 13h10Por Celso Bejarano

Meramente 10% das cargas de droga, como maconha e cocaína, que atravessam o território sul-mato-grossense e seguem para os grandes centros, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, por exemplo, caem nas operações policiais. Ano passado, “apreendemos 420 toneladas”, disse o diretor geral da Polícia Civil de MS, Marcelo Vargas, dono do presumido cálculo em questão. Ou seja, por ano, 4,2 mil toneladas de droga passeiam pelo Estado sem ser incomodadas pela polícia.

E tem como mudar isso? Não. Ao menos pela explicação do delegado em entrevista ao diretor de jornalismo do TopMidiaNews, Vinícius Squinelo.

Vargas disse que para agir no combate a droga, uma responsabilidade da União, ratificou, as polícias de MS mantêm um convênio com o governo federal, o qual batizou como “caracu”. “Eles entram com a cara e a gente com o resto”.

Convênio em questão é firmado desde 1994, 24 anos atrás, e renovado de quatro em quatro anos. “E não ganhamos nada com isso. Ao invés de investigarmos crimes de estupro, roubo, violência doméstica, temos de apreender droga”, declarou o delegado.

A contrapartida ofertada pela União por MS atuar na combate ao tráfico de armas e droga, segundo o delegado, “é nada”. Ele afirmou que o Estado recebe um percentual dos leilões de bens apreendidos que pertencem aos traficantes.

O patrimônio do traficante, quando provado judicialmente o envolvimento dele, vai a leilão e o recurso arrecadado, para a Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas), que repassa uma parcela aos estados pactuados.

“Temos R$ 3 milhões para receber da Senad, que não repassa os recursos há pelo menos três anos”, queixou o diretor-geral da Polícia Civil, que contou ainda que em MS, a cada 10 presos, seis têm participação em crimes ligados ao narcotráfico.

Marcelo Vargas crê em mudanças somente com parcerias internacionais. Para ele, os governos bolivianos e paraguaios teriam de incentivar o plantio de lavouras lícitas, como soja e milho. Nestes países, produtores de maconha e cocaína, mexer com droga é regularmente bem mais rentável do que plantar grãos, por exemplo.

“Incentivo a produção lícitas amenizaria as formas de atuação das forças policiais”, disse o delegado, referindo-se ao tempo dedicado mais ao tráfico de droga do que em outros crimes.

Outra questão pontuada por Vargas, “opinião minha: não prender mais e, sim, prender melhor”. No caso, o delegado acredita que a investigação contra o tráfico deveria focar em ações conduzidas pelos comandantes do tráfico.

“Em MS prende-se o mula [pessoa usada por traficantes para transportar droga por fronteiras policiais, mediante pagamento ou coação], interessa prender esse cidadão? Temos de prender o fornecedor”, afirmou o policial.

Vargas sustentou também que para efetuar as prisões dos comandantes do tráfico ou de quem distribui a droga, é preciso acordos internacionais, de cooperação. Assista a entrevista completa: