Os dados mais recentes do Dieese, com base na Pnad Contínua do IBGE (2º trimestre de 2025), reforçam um cenário conhecido, mas ainda pouco enfrentado de forma estrutural: a população negra em Mato Grosso do Sul continua recebendo salários significativamente menores do que a população não negra, mesmo quando possui a mesma escolaridade.
No Centro-Oeste, onde a população negra representa 63% dos habitantes, Mato Grosso do Sul tem 59,7% de pessoas negras, revelando um estado majoritariamente composto por pretos e pardos. Ainda assim, essa maioria permanece em posição desigual no mercado de trabalho.
Rendimento médio: diferença que ultrapassa mil reais
Com base nos recortes regionais do Dieese, a desigualdade salarial no Centro-Oeste evidencia um padrão que se repete no território sul-mato-grossense. Em 2025:
Homens negros receberam, em média, R$ 3.701, enquanto homens não negros alcançaram R$ 6.721.
Mulheres negras tiveram rendimento médio de R$ 2.564, menos da metade do valor recebido por mulheres não negras (R$ 4.949).
A disparidade é ainda mais nítida quando observada a partir da formação. Mesmo com ensino superior completo, a população negra do Centro-Oeste recebe 29,4% a menos que a população não negra. Isso significa que, mesmo após vencer barreiras de acesso à educação, negros e negras ainda enfrentam um teto salarial que não aparece nas estatísticas da população não negra.
Informalidade e baixa remuneração atingem mais os negros
O Dieese aponta que, no Centro-Oeste, 33% dos trabalhadores negros estão na informalidade, contra 31% dos não negros. Em Mato Grosso do Sul, essa diferença se faz visível no comércio, na construção civil, no trabalho doméstico e nos serviços gerais, setores onde negros e negras são maioria.
Além disso, 28% da população negra ocupada recebe até um salário mínimo, percentual bem maior do que entre trabalhadores não negros. Na prática, isso significa que a população negra é empurrada para as ocupações mais precarizadas, com menor proteção social e menor possibilidade de ascensão.
Mulheres negras: a interseção mais vulnerável
O recorte por gênero revela o ponto mais crítico da desigualdade. As mulheres negras são, ao mesmo tempo, a base que sustenta setores inteiros do mercado de trabalho e o grupo mais penalizado em termos de remuneração.
Elas ganham:
38,7% menos do que mulheres não negras;
53,2% menos do que homens não negros;
20,5% menos do que homens negros.
Em MS, essa realidade se reflete no grande número de mulheres negras em empregos como cuidadoras, auxiliares de serviços gerais, atendentes e domésticas, funções que, historicamente, carregam heranças da escravidão e da divisão racial do trabalho.
Cargos de liderança ainda não refletem a diversidade do estado
Apesar de representarem quase 60% da população estadual, negros e negras ocupam apenas um terço dos cargos de gerência e direção no Brasil, segundo o Dieese. Em Mato Grosso do Sul, essa ausência também é perceptível no setor público, no segmento corporativo e até mesmo no terceiro setor.
Os números colocam Mato Grosso do Sul diante de um desafio urgente: promover políticas efetivas de inclusão, combate ao racismo estrutural e redução das desigualdades salariais. Especialistas reforçam que ações afirmativas, planos de diversidade no setor privado, qualificação profissional com recorte racial e fiscalização de práticas discriminatórias são caminhos necessários, mas ainda pouco implementados no estado.









