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Entrevistas

Com caráter social, Liga de Judô tem como ideologia popularizar esporte

Presidente da LIJUMS, sensei Jansser Lorimer, explica sobre a ideologia social da liga

07 maio 2018 - 11h26Por Airton Raes

Com objetivo de tornar a prática do judô mais acessível em Mato Grosso do Sul, o Presidente da LIJUMS (Liga de Judô de Mato Grosso do Sul), sensei Jansser Lorimer, explica sobre a ideologia social da liga. Montada no final de 2016, a LIJUMS tem como meta almejar um judô praticado por todos.

Praticante do judô há mais de trinta anos, Jansser Lorimer começou no esporte em 1987, tendo como primeiro professor Jhonny Ajala. Depois foi para a Associação Mifune de Judô com os professores Cesar Jokura, Marcos Shimabukuro e o Shihau João Shimabukuru em 2016, junto com amigos de infância fundou a Liga de Judô de Mato Grosso do Sul.

Como foi o inicio da Liga de Judô de Mato Grosso do Sul?

Pratico judô há uns trinta anos. Fundamos em 2016 pelo fato de discordarmos de alguns fatores. Não porque não gosto do judô competitivo, mas por almejar um judô praticado por todos e não só um judô de competição de resultado. Poder praticar judô e chegar na faixa preta sem ser um atleta expressivo. Uma mãe de família. Um pai de família. Um deficiente. Fomos pioneiros em treinar deficientes visuais e autistas. Também com valores mais baixos.

O judô virou um esporte elitizado. Ficou muito custoso competir judô. Precisa ter dois quimonos, as taxas ficaram altas. O reconhecimento também. Às vezes a gente pratica judô há muito tempo e não vê uma graduação. Não vê pessoas graduarem na faixa preta. No meu ver, a faixa preta é o inicio. O primeiro grau significa início no Japão, no kodokan, onde tudo começou. Lá você gradua judô com dois anos. Lá as crianças graduam na faixa preta com 14 anos.

Aqui, às vezes, exigem demasiadamente para que a pessoa seja faixa preta primeiro Dan. Chega no primeiro Dan com aquele conhecimento básico, intermediário e, se ele quiser, aí é praticante. Se quiser aperfeiçoar, ser um professor e buscar conhecimento. Fazer uma faculdade de educação física para poder ajudar no judô. Judô não é só luta. Esse é o fator predominante. Estamos fazendo um judô para todos. Essa é a ideia da confederação brasileira de ligas de judô.

Como funciona o trabalho de vocês?

Maioria do trabalho é social. Temos projetos gratuitos e também trabalhamos com taxas sociais. O nosso foco não é o rendimento. Entendo que o competidor de rendimento tenha que ser cobrado, pois eles têm toda uma logística para trabalhar, se não, não dá para competir. Temos atletas da federação que fazem parte da seleção brasileira. É um investimento. A gente fala brincando que somos como uma segunda divisão.

Temos a elite e estamos aqui praticando judô independente de alto resultado. Lógico que pode aparecer uma criança que tenha as características de competidor e a gente pode orientar ela ir para esse lado da luta e conseguir uma bolsa em uma escola. Ganhar patrocínio. Isso também é bom. A gente não é contra esse judô de rendimento. A gente só quer que amplie mais esse judô para todos. Essa é grande ideia da liga. Eu trabalhei por muito tempo com rendimento e formação e resolvi participar da liga.

Quais os desafios para treinar o judô paraolímpico?

Trabalhei com paraolímpicos. Fui o pioneiro aqui. Iniciei a Michele Ferreira, da faixa branca até a medalha que ela conquistou em Pequim. Treinei outros atletas que conquistaram medalha no campeonato mundial. E participam da seleção brasileira. Não tem diferença. A dificuldade no início era o preconceito. Pois as pessoas os veem como coitadinhos. E para conseguir resultados por conta disso, que eu nunca tive esse preconceito.

Tenho uma irmã deficiente moderada. Então eu cobrava mesmo como de qualquer outro atleta. Começamos a ter resultado por conta dito. Você é praticante, treina uma ou duas vezes por semana. Os que eram competidores treinavam todo dia.  Faziam trabalho de musculação. Faziam a parte prática. A dificuldade é a própria sociedade. O atleta deficiente, quando ele quer, ele explica a dificuldade que ele sente e você vai adaptando com ele ali.

Como o esporte tem se desenvolvido no Mato Grosso do Sul?

Continuamos sendo destaque nacional. Temos grandes profissionais aqui no Estado. Temos o professor Alessandro, Professor João Rocha, o próprio Aurélio Moura. Então estamos crescendo cada vez mais na área competitiva. Isso para nós é bom porque atrai novos adeptos. Como eu disse, nem todo atleta de judô vai ser competidor de rendimento. Temos esses competidores de alto nível que ajudam a propagar o judô.

Vocês possuem apoio do poder público?

A liga é nova. Ainda não temos apoio do poder público. Mas estamos buscando. A gente saiu da casca do ovo. A gente formou a liga em dezembro de 2016. Passamos 2017 divulgando, dando cursos, convidando as pessoas que se encaixam nesse judô nosso, social. No começo teve muita retaliação. Mas a liga é reconhecida por lei. Estamos em processo de crescimento. Alguns municípios já tem apoio da prefeitura, através de projeto social. Estamos buscando apoio. Nosso apoio hoje é particular. Ajuda de amigos, do comércio da região. Principalmente na Mata do Jacinto e região norte.

Em quais municípios a LIJUMS já tem representantes?

Nós temos já no município de Rio Verde, Sonora, Jardim, Campo Grande, Mundo Novo, Naviraí. Temos duas ligas distintas. A confederação de ligas permite até duas por Estado. Temos a LIJUMS, que é a Liga de Judô de Mato Grosso do Sul, e tem a Liga Confederada de Judô de Mato Grosso do Sul, com sede em Maracaju. Junto com ela também tem em Porto Murtinho e Glória de Durados. Hoje já ultrapassamos o número de mil filiados às duas ligas.

Quais os benefícios de praticar o Judô?

A gente sai do judô de elite. O judô trás melhoria na educação. No aprendizado motor. Ensina respeito. Ajuda na qualidade de vida. Ajuda na relação entre pais e filhos. A gente proporciona que o pai esteja praticando junto com o filho. A gente tem conseguido levar o judô para as periferias e regiões mais distantes. Por ser social ou é gratuito ou com uma tarifa bem acessível. Estamos formando os faixas pretas que tem interesse de participar da liga e, através de igrejas, centro comunitários, iniciativa privada estão montando cada um sua sala de judô e buscando os alunos. Trabalho de formiguinha mesmo. Divulgação boca a boca. Todos os professores estão fazendo isso. Alguns estão inseridos em escolas. A maioria também é profissional de educação física.