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19/03/2019 12:56

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'Eu não desejo a minha casa para ninguém', diz morador que vive a 50 metros de barragens

João Batista é vizinho dos diques proibidos pela Justiça de receberem rejeitos

João Batista Carlos, de 64 anos, trabalhou na Vale entre 1973 e 1997. Após se aposentar, ele comprou um terreno no bairro Bela Vista, em Itabira, na Região Central de Minas Gerais, onde construiu sua casa. São 720 m² de área, com quintal e muita fruta no pé. “Eu me sinto desconfortável morando aqui. Não desejo essa casa para ninguém”, disse João.

Cinquenta metros de distância separam a cerca do imóvel da base de contenção da Barragem Dique Cordão Nova Vista. Bem ao lado fica a Barragem Dique Minervino. Elas fazem parte do Sistema Pontal da Mina do Cauê, da Vale, que se exauriu na década de 1990. Ambas foram proibidas na última sexta-feira (15) pela Justiça de receberem rejeitos.

Segundo a decisão, a empresa alemã TÜV SÜD informou que as barragens foram sinalizadas preliminarmente "como fonte particular de preocupação". O Ministério Público de Minas Gerais ainda argumentou que a notificação "recomendou que qualquer atividade de construção nessas barragens e qualquer vibração devem ser evitadas, pois podem gerar falhas."

João Batista vem sofrendo com os alteamentos da barragem há anos. Ele mora no bairro Bela Vista há 21 anos. “Quando eu comprei, não se via a barragem da minha casa. Depois do último alteamento, em 2010, ela está aqui. Bem em frente”, disse ele.

O aposentado, que vive com a mulher e o filho, quer sair da casa. A tensão provocada pela proximidade tem lhe tirado o sono.

“O problema é que não vou conseguir vende a preço de mercado. Todas as casas aqui sofreram desvalorização. E quem vai comprar? Eu mesmo não tenho coragem de vender. De passar esse problema adiante”, contou o aposentado.

De acordo com a Associação de Moradores do Bairro Bela Vista, a apreensão é constante. “A Vale e a Defesa Civil dizem para a gente que não há risco. Mas as pessoas ficam tensas, né? E todo mundo está perdendo com a desvalorização dos imóveis. Tem a questão do emprego também. Muita gente aqui trabalha na Vale. Até quando?”, disse a presidente da entidade, Maria Aparecida Oliveira.

“Eu não sou contra o progresso. Só acho que a Vale ‘atropelou’ a gente quando expandiu a barragem. Podia ter sido feito de outra forma”, disse João.

Hoje, a exploração das minas de Itabira representa pouco mais de 9% da produção total da Vale. São cerca de 43 milhões de toneladas por ano. A Vale tem hoje duas minas e três usinas de beneficiamento de minério de ferro na cidade.

O Complexo do Pontal também é vizinho dos bairros Nova Vista e Rio de Peixe. De acordo com a prefeitura, 2.345 visitas domiciliares foram realizadas nestes locais pela Vale e Defesa Civil desde o dia 27 de fevereiro, pouco mais de um mês depois da tragédia em Brumadinho. A medida faz parte do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração.

De acordo com a mineradora, 93 placas de sinalização de rotas de fuga e de pontos de encontro estão sendo instaladas, A previsão é que o plano seja concluído até abril. Testes de sirene e simulados de emergência com a população devem ser feito ainda este ano.

“Que treinamento eu e minha família podemos fazer? Eu moro a 50 metros da barragem”, disse João.

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