As brigas entre Doralice da Silva, de 42 anos, e o companheiro Edemar Santos Souza, de 31, eram constantes e já haviam sido percebidas por vizinhos e familiares, conforme relato de testemunhas à Polícia Civil. Mesmo assim, segundo consta no boletim de ocorrência, a vítima nunca registrou denúncia formal nem solicitou medida protetiva contra o autor.
Na noite desta sexta-feira (20), Doralice foi assassinada a facadas dentro de casa, no bairro Vila Juquita, em Maracaju. Corpo apresentava um golpe profundo de arma branca no pescoço, que quase provocou a decapitação. Edemar foi preso e é o principal suspeito.
De acordo com informações da Polícia Militar, populares ligaram para o 190 informando sobre um feminicídio cometido com arma branca, e que o autor havia fugido do local a pé, empurrando uma carriola, em direção ao bairro Nenê Fernandes. Quando os policiais chegaram à residência, Doralice já havia sido encontrada sem vida pela filha, caída no chão do quarto e coberta de sangue.
Peritos identificaram sinais de limpeza da cena, o que indica tentativa do autor de apagar rastros. Um pano de chão ensanguentado foi encontrado no cômodo, com marcas de sangue espalhadas e parcialmente removidas.
Uma vizinha confirmou ter ouvido gritos e barulhos de briga, mas decidiu não acionar a polícia por achar que, como em outras vezes, o conflito havia cessado. A irmã de Doralice também confirmou à polícia que as brigas entre o casal eram frequentes.
Ainda durante a madrugada, a Polícia Civil e a equipe do SIG (Setor de Investigações Gerais) foram acionadas para acompanhar a perícia no local. Foram feitas buscas nos endereços dos pais de Edemar e também em chácaras na região da antiga saída para Campo Grande, mas inicialmente sem sucesso.
Companheiro nega crime
Na manhã deste sábado (21), Edemar se apresentou à Polícia Militar, mas negou ter assassinado a companheira. Ao se entregar, ele afirmou que decidiu procurar a polícia após saber que estava sendo apontado como autor do crime.
Segundo ele, os dois teriam saído de motocicleta para um mercado e, após um leve acidente, voltaram para casa. Ambos, então, teriam discutido e decidido encerrarem o relacionamento.
Em seguida, um homem desconhecido teria aparecido em um carro modelo Gol, cor prata, e ajudado Edemar a carregar seus pertences em uma carriola. Ele afirma que esse suposto homem permaneceu na casa com Doralice, enquanto ele foi embora.
Na versão apresentada, Edemar diz que seguiu pela Rua Mário Silva até a região da Zebulândia e depois foi para a casa de uma tia, na Vila Margarida. Ele também sugeriu à polícia que câmeras de segurança da vizinhança poderiam comprovar o trajeto mencionado.
Inconsistências
Apesar da narrativa detalhada, a versão de Edemar entrou em contradição menos de 30 minutos depois. Policiais foram informados de que seus documentos pessoais e seu celular haviam sido encontrados por um morador da Rua Gilberto Alves, região que não corresponde ao trajeto informado por ele.
Os itens estavam em cima de uma carteira escolar encostada no muro de uma casa. A hipótese é de que o autor teria descansado ou permanecido ali por algum tempo após o crime.
Além disso, a cena do crime não apresentava sinais de arrombamento, nem havia evidências da entrada de terceiros. A filha da vítima, que encontrou o corpo e acionou a polícia, relatou que o casal discutia com frequência, embora a mãe nunca tenha registrado boletins de ocorrência ou solicitado medida protetiva contra Edemar.
Doralice, porém, tinha medida protetiva ativa contra um ex-marido, com quem já não mantinha contato. Segundo vizinhos, os gritos e brigas eram recorrentes entre o casal, mas ninguém imaginava um desfecho tão violento. Uma das testemunhas relatou à polícia que ouviu os dois discutindo pouco antes do crime, mas não interveio por acreditar que fosse mais uma das muitas brigas do casal.
Investigação continua
Edemar foi encaminhado à Delegacia de Polícia Civil de Maracaju, onde segue detido. A investigação é conduzida pelo SIG (Setor de Investigações Gerais), que agora trabalha para confrontar as declarações do suspeito com provas técnicas, imagens de câmeras de segurança e depoimentos de testemunhas.
Edemar chegou a ter medida protetiva solicitada por sua mãe, mas que atualmente estava extinta.
A Polícia Civil investiga o caso como feminicídio e violência doméstica e familiar. Edemar segue preso.