“O meu coração está roxo, abatido”. É assim que Raniel Antonio Corte, pai da estudante Erika de Lima Corte, falou que se sente após a jovem ter sido brutalmente assassinada na última segunda-feira (20), em Pedro Juan Caballero, no Paraguai.
A declaração de Raniel, que é ex-prefeito de Pontal do Araguaia, foi feita durante uma manifestação que reuniu dezenas de amigos e familiares de Erika, na cidade onde aconteceu o crime.
"Eu só quero Justiça. Eu só quero, também, que vocês [estudantes e amigos] tenham, no mínimo, segurança”, afirmou.
A jovem foi encontrada morta no chão da quitinete onde morava com uma amiga. O corpo dela apresentava pelo menos 19 facadas, segundo a perícia.
Em seu discurso, Raniel ficou bastante emocionado e disse que não vai parar de lutar até ver Justiça após o assassinato da filha.
“Essa vai ser uma luta minha pela Erika, por vocês. Eu jamais esperaria isso. Para a Erika não adianta mais. Faço isso para eles. É o mínimo que eu peço para [os Governos do] Paraguai e o Brasil, que se atente para essa mocidade. É o futuro dos dois países. Acabando assim? Dessa forma? Não. Aonde nós vamos chegar?”, disse o ex-prefeito.
Emocionado, Raniel ainda afirmou que jamais esperou que fosse perder a filha assim. Lamentou, ainda, pelos sonhos perdidos da jovem, que já era formada em Enfermagem e deixou tudo para trás para cursar Medicina no Paraguai.
“Ela se formou enfermeira, não teve o acalento do Brasil para oferecê-la um serviço, para mantê-la, veio fazer Medicina e se deparou com a morte por insegurança. Então, quero aqui deixar o meu apoio para vocês [estudantes]. Estarei, a todo o tempo, cobrando, pedindo [por Justiça] onde eu estiver, porque que os países têm que se unir, se defender. A população, apesar da diferença de línguas, só quer, no mínimo, educação, saúde e segurança”, disse.
Na quarta-feira (22), o Ministério Público do Paraguai denunciou o eletricista Cristopher Andrés Romero Irala, de 27 anos, pelo assassinato da universitária.
Ele teve a prisão preventiva cumprida nessa mesma data e foi encaminhado para uma unidade penitenciária do Paraguai.
A prisão do suspeito
O eletricista Cristopher Andrés Romero foi detido por volta das 4 horas de quarta-feira (22) na cidade de Concepción, a 220 km de Pedro Juan Caballero.
A Polícia havia recebido a informação de que o suspeito estaria na casa do irmão, em Concepción. Após a denúncia, foi montada uma vigilância no local, onde, horas depois, o eletricista acabou detido.
Ele foi abordado quando saía da casa em um carro.
A ordem de prisão foi expedida pelo promotor de plantão Alberto Saldivar, que solicitou ainda que o eletricista fosse levado para uma prisão em Concepción.
Em breve entrevista ao site Ponta Porã Informa, o investigador Luis Villalba, da Divisão de Homicídios da Polícia Paraguaia, informou que o eletricista disse ter fugido da cidade por medo de represálias por parte da população.
Outro questionamento feito pelos policiais a ele diz respeito às imagens que o flagraram comprando sorvete em um estabelecimento próximo à casa da estudante no dia do crime. O recipiente foi encontrado, posteriormente, na mesa da sala da jovem.
Ele confirmou que estava realizando trabalhos pelas redondezas. Depois, decidiu ficar em silêncio e disse que falará somente em Juízo, na presença de seu advogado.
Outro homicídio
O eletricista já foi preso, anteriormente, pela morte de outra jovem, a paraguaia Daysi Patricia Gómez Benitez, de 26 anos, que ocorreu em agosto de 2012.
Conforme apurado, o crime aconteceu no Bairro Perpétuo Socorro, próximo de onde Erika morava na cidade. Na ocasião, a jovem foi morta a golpes de punhal e o assassino ainda tentou queimar o corpo.
Cristopher Andrés, na época com 21 anos, chegou a ser preso após se apresentar espontâneamente à Justiça. Ele era considerado foragido e acabou preso, mas foi solto por falta de provas.
O pai da paraguaia, Isidro Benitez, esteve no ato de protesto dessa semana e prestou apoio e solidariedade aos familiares de Erika.
Em entrevista, ele lamentou a morte da mato-grossense e confessou que o crime "abriu uma ferida" que ele achava que já estava cicatrizada.
"É difícil estar aqui. Abriu-se outra vez a ferida que eu tive há 6 anos. Brasileiros, vocês não sabem o que fizeram com a minha filha.
Ele queimou a minha filha, a um quarteirão daqui. Esfaqueou, asfixiou", disse.
Apesar da Polícia não ter encontrado provas concretas contra o eletricista, o paraguaio relata que acredita que o suspeito é responsável por ambas as mortes das garotas.
"É uma pena que estou falando isso. Não queria ter um encontro desse, da mesma forma que fizeram com a Erika. Desculpe-me, pai da Erika. É lamentável o que fizeram com ela. Praticamente destruiu quatro famílias – a minha família, a família da minha esposa, a família do pai da Erika e a família da mãe da Erika. Não sei como esse homem estava livre, sem antecedentes policiais. Senhores fiscais, por favor, não sei o que está acontecendo", lamentou, entre lágrimas.
Relembre o caso
Erika foi para o Paraguai há cerca de um ano e meio para cursar Medicina.
A Polícia paraguaia foi acionada sobre o crime pela colega de quarto de Erika, após ela chegar do trabalho.
Ela relatou ter encontrado a amiga caída no chão, com o corpo esfaqueado e o rosto coberto com um pedaço de pano.
Além disso, o celular não foi encontrado na casa. Acredita-se que tenha sido levado pelo criminoso.
A dona da quitinete onde Erika morava com a amiga deu uma entrevista para o telejornal local Noticiero 3, contando como o corpo da estudante foi encontrado.
À reportagem, ela disse ter acordado por volta de 1h15 com os gritos da colega de quarto da estudante, que teria se assustado ao encontrar o corpo.
A mulher ainda contou que não ouviu nada acontecer na quitinete onde as duas jovens moravam e afirmou que, caso tivesse ouvido algum barulho, teria buscado ajuda para entrar à força no local e salvá-la.
Para a reportagem, a proprietária ainda relatou que viu um eletricista no local, que teria sido chamado para consertar o chuveiro elétrico.
Ela não soube dizer, porém, se o mesmo voltou ao quarto, uma vez que a entrada na quitinete só era permitida com autorização.