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Política

30/10/2019 17:45

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Filho de Bolsonaro contesta versão de porteiro sobre ida de suspeito na casa do presidente

Em depoimento, o funcionário do condomínio disse à polícia que Élcio Queiroz havia sido liberado por alguém da casa de Jair Bolsonaro

O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) divulgou, na manhã desta quarta-feira (30) nas redes sociais, imagem e áudio que, segundo ele, foram tirados do sistema que grava as ligações feitas da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, Rio de Janeiro, local onde reside Ronnie Lessa, principal suspeito de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. O presidente Jair Bolsonaro (PSL), pai de Carlos, também tem uma casa na área.

De acordo com informações do G1, Carlos apresentou o material para contestar as informações fornecidas à polícia pelo porteiro do condomínio e o registro manual de entrada de visitantes, já analisado pelos investigadores. A TV Globo teve acesso, com exclusividade, aos registros da portaria exibidos noite de ontem (29) em reportagem do Jornal Nacional. O funcionário contou à polícia que, horas antes do atentado que tirou a vida de Marielle e Anderson, em 14 de março de 2018, o outro suspeito do crime, Élcio de Queiroz, entrou no Vivendas da Barra e disse que iria para a casa do então deputado Jair Bolsonaro.

Segundo o porteiro, a autorização para que o suspeito entrasse no condomínio foi dada por uma pessoa que na casa de Bolsonaro, no número 58. O presidente também é proprietário da casa 36, onde mora o filho, Carlos. Os registros de presença da Câmara dos Deputados mostram que Jair Bolsonaro estava em Brasília naquele dia. No áudio apresentado por Carlos Bolsonaro nesta quarta, uma voz anuncia a chegada de Élcio para a casa 65, onde reside o outro acusado, Ronnie Lessa, também proprietário da casa 66. O vereador conclui dizendo que há algo de errado nas informações passadas à reportagem. Fontes ouvidas pela emissora dizem que, no documento, há divergências entre as entradas registradas em papel e as exibidas no vídeo por Carlos. Há, por exemplo, entradas que aparecem em um registro, mas não em outro.

As gravações de áudio estão em poder da polícia, mas passaram por perícia porque os investigadores esperam pela manifestação do STF (Supremo Tribunal Federal) em função da citação ao presidente da República, Jair Bolsonaro. A polícia prendeu os dois suspeitos dos assassinatos em março deste ano. Lessa é sargento aposentado da Polícia Militar e foi preso quando tentava fugir de casa, no condomínio. Já Élcio de Queiroz é ex-policial militar e foi expulso da PM em 2015 por envolvimento com contravenção.

Bolsonaro acusa Witzel de vazamento

O presidente Jair Bolsonaro se disse surpreso com o fato de um delegado de polícia do Rio de Janeiro ter ignorado os registros e áudios da portaria do condomínio e inventado o depoimento do porteiro. O presidente está em viagem pela Arábia Saudita e foi questionado sobre o vídeo postado por Carlos, replicado no perfil oficial da presidência.

Bolsonaro afirmou que o depoimento do porteiro é uma "invenção" e ocorreu "por ordem e determinação do senhor governador [Wilson] Witzel", para tentar prejudicá-lo. "Tem o registro, sim, para casa outra. Agora, nos surpreende a qualquer um a Polícia Civil, o delegado que tá fazendo o inquérito, ignorar isso e inventar um depoimento, no meu entender por ordem e determinação do senhor governador Witzel para tentar me prejudicar", afirmou o presidente.

Governador do Rio se defende

O governador Wilson Witzel (PSC) afirmou durante um evento no Rio de Janeiro que jamais violou segredos de Justiça durante sua vida profissional e se defendeu dos ataques do presidente.

"Jamais vazei qualquer tipo de informação, seja como magistrado, seja como governador. Eu lamento que o presidente tenha no momento, talvez, de descontrole emocional – no momento em que ele está numa viagem, não está, talvez, no seu estado normal – tenha feito acusações contra a minha atividade como governador", disse Witzel.

"Não manipulo o Ministério Público, não manipulo a Polícia Civil, isso é absolutamente inadequado, contrário às instituições democráticas. A Polícia Civil, no meu governo, tem independência, o MP tem e sempre terá independência e, infelizmente, eu recebi com muita tristeza essas levianas acusações.".

O depoimento do porteiro

O Jornal Nacional revelou em detalhes o depoimento do porteiro que trabalhava na única guarita que controla os acessos ao Condomínio Vivendas da Barra, onde ficam as casas de Ronnie Lessa e Jair Bolsonaro. Por volta das 17h10 de 14 de março de 2018, data do assassinato da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, o porteiro registrou no livro de visitantes o nome de Élcio de Queiroz, um dos suspeitos do crime ao lado de Ronnie Lessa.

Além do nome de Élcio, o funcionário também anotou o modelo do carro, um Renault Logan e a casa para onde o visitante iria se dirigir, o número 58. Ele contou que Élcio se identificou na portaria e ligou para o imóvel para confirmar se o visitante tinha autorização para entrar.

Disse também que identificou a voz de quem atendeu como sendo a do "Seu Jair" e confirmou a informação nos dois depoimentos. O porteiro acompanhou a movimentação do carro pelas câmeras de segurança e viu que o veículo ir para a casa 66 do condomínio, onde morava Ronnie Lessa. Lessa é apontado pelo Ministério Público e pela Delegacia de Homicídios como autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson.

O porteiro ligou de novamente para a casa 58 e a pessoa supostamente identificada como “Seu Jair” disse saber aonde Élcio estava indo. Em pesquisa aos registros da Câmara dos Deputados, o Jornal Nacional encontrou uma contradição no depoimento do porteiro. O então deputado e candidato a presidente, na verdade, estava em Brasília naquele dia, como mostram os registros de presença nas votações no plenário: às 14h e às 20h30. Não podendo então estar presente no Rio de Janeiro.

Bolsonaro também postou vídeos nas redes sociais do lado de fora e dentro do gabinete em Brasília. Fontes disseram à reportagem que os suspeitos saíram do Vivendas da Barra no carro de Lessa minutos depois da chegada de Élcio e, apenas próximo ao condomínio, embarcaram no veículo utilizado no crime.

O Jornal Nacional também apurou que a guarita do local tem equipamentos que gravam as conversas pelo interfone. Os investigadores estão recuperando os arquivos de áudio para saber com quem, de fato, o funcionário teria conversado naquele dia e quem estava na casa 58.

A polícia está chamando novamente ex-funcionárias e pessoas próximas de Marielle para depoimentos. A investigação chegou ao homem apontado como o assassino por uma denúncia anônima – feita em outubro de 2018, sete meses após o início da apuração – que revelou o nome de um dos suspeitos e o local de onde o carro partiu, na Barra da Tijuca.

Ministério Público consultou Toffoli

A emissora apurou que, depois de saber das informações envolvendo a casa do presidente Jair Bolsonaro nas investigações, representantes do Ministério Público do Rio de Janeiro foram até Brasília em 17 de outubro para fazer uma consulta ao presidente do STF, o ministro Dias Toffoli.

Sem avisar o juiz do caso no Rio, questionaram se poderiam continuar a investigação depois do envolvimento do nome do presidente. Dias Toffoli não respondeu até o momento.

A versão dos citados

O presidente Jair Bolsonaro reagiu às revelações do Jornal Nacional, na madrugada desta quarta-feira (30) na Arábia Saudita, onde está em visita oficial. "Fui surpreendido agora há pouco de uma matéria do Jornal Nacional sobre o depoimento de um porteiro de que, no dia 14 de março do ano passado, às 17h10, um dos suspeitos de ter executado a Marielle teria se apresentado na portaria, ligado pra minha casa, no caso o porteiro ter ligado pra minha casa, e o porteiro reconheceu como voz sendo a voz minha nessa quarta-feira, 18 de outubro, às 17h10, e autorizou então a entrada do mesmo no condomínio. Detalhe, quarta-feira, geralmente um parlamentar ele está em Brasília, 17h10. Eu tenho registrado no painel eletrônico da Câmara presença 17h41, ou seja, 31 minutos depois da entrada desse cidadão no condomínio. E tenho também às 19h36. E tenho também registrado no dia anterior e no dia posterior as minhas digitais no painel de votação."

O advogado do presidente, Frederick Wassef, contestou o depoimento do porteiro e afirmou ser uma tentativa de atacar a imagem do presidente. "Eu nego isso. Isso é uma mentira. Deve ser um erro de digitação, alguma coisa. O Jair Bolsonaro, no dia 14 de março de 2018, encontrava-se em Brasília, na Câmara dos Deputados, inclusive existe o registro de entrada dele lá, com o dedo, e todas as demais provas. Eu afirmo com absoluta certeza e desafio qualquer um no Brasil a provar o contrário. Isso é uma mentira, isso é uma fraude, isso é uma farsa para atacar a imagem e a reputação do presidente da República. E é o caso de uma investigação por esse falso testemunho em que qualquer pessoa tenha afirmado que essa pessoa foi procurar Jair Bolsonaro. Talvez, esse indivíduo tenha ido na casa de outra pessoa, e alguém, com intuito de incriminar o presidente da República, conseguiu um depoimento falso, onde essa pessoa afirma que falou com Jair Bolsonaro. O presidente não conhece a pessoa de Élcio, e essa pessoa não conhece o presidente. Isso é uma mentira e uma farsa", disse Wassef.

O Ministério Público do Rio afirmou que as investigações estão a cargo da Delegacia de Homicídios, que é subordinada à Secretaria de Polícia Civil, e que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) acompanha o caso. A Polícia Civil do Rio afirma que o governador Wilson Witzel não interfere na apuração do duplo homicídio, nem teve acesso aos documentos dessa investigação, nem de outras. Afirmou ainda que a investigação do caso Marielle está sendo conduzida com sigilo, isenção e rigor técnico. As defesas de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram procuradas, mas responderam. A assessoria do ministro Toffoli também foi procurada e não se pronunciou sobre o caso.

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