Revista semanal, a Veja, uma das mais destacadas do país, publicou reportagem nesta sexta-feira (28), em que diz ter feito contato com duas testemunhas que o ex-juiz federal Sérgio Moro, agora ministro da Justiça, indicou para o MPF (Ministério Público Federal) ouvir em uma das fases da operação Lava Jato. Por regra constitucional, magistrado algum deve envolver-se com pessoas ligadas à investigação.
O material se sustentou em diálogos vazados do então magistrado com procuradores da República que conduziam as investigações acerca da Lava Jato. As conversas, mantidas pelo Telegram, aplicativo parecido com WhatsApp, foram publicadas pelo site noticioso Intercept Brasil. De acordo com o Intercept, Moro combinava estratégias de ações do MPF, ou seja, agia como se fosse o chefe da investigação.
As duas testemunhas indicadas por Moro teriam, diz a revista, informações sobre transferências de imóveis de um dos filhos do ex-presidente Lula. De acordo com a reportagem, as testemunhas confirmaram ter sido procuradas por integrantes do MPF, mas nada detalharam sobre a tal informações sobre o filho do ex-presidente, que está preso desde o ano passado. Foi Moro que sentenciou Lula.
Na reportagem é dito que as testemunhas seriam Nilton Aparecido Alves, um técnico em contabilidade, e Mário César Neves, dono de posto de gasolina na capital sul-mato-grossense.
O TopMidiaNews apurou que Nilton é morador do residencial Maria Aparecida Pedrossian e já foi denunciado pelo Gaeco, braço do Ministério Público de Mato Grosso do Sul. O técnico em contabilidade teria participado de um esquema de sonegação de imposto. A trama teria causado um rombo nos cofres do Estado de ao menos R$ 44 milhões.
Para se ter ideia da dimensão do esquema, a denúncia contra os implicados juntou uma pilha de quase 600 páginas.
Nilton foi denunciado por lavagem de dinheiro, corrupção e formação de organização criminosa, crimes que teriam sido praticados pelo grupo entre 2015 e 2018.
A outra testemunha, afirma a revista, é Mário César Neves, que seria o dono de posto de gasolina.
A REPORTAGEM DA VEJA
De acordo com a reportagem da revista, conversas divulgadas pelo site The Intercept Brasil mostram que, em 7 de dezembro de 2015, Moro indicou a Dallagnol, Procurador da República, chefe da operação Lava Jato, uma pessoa que teria informações sobre transferências de imóveis de um dos filhos do ex-presidente Lula.
Seguindo a orientação de Moro, Dallagnol procurou a testemunha, que não quis prestar depoimento. O procurador, então, sugeriu — com a anuência de Moro — convocá-la com base em "notícia apócrifa", ou seja, uma notícia falsa.
A Veja procurou as duas pessoas citadas nessa conversa: a testemunha indicada por Moro e um intermediário que levou a informação até o ex-juiz. A testemunha era Nilton Aparecido Alves, de 57 anos, técnico em contabilidade que tem um escritório no centro de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
Ainda de acordo com a reportagem, Alves não confirmou se foi contatado pela força-tarefa da "lava jato" ou se tinha informações sobre transações imobiliárias do filho de Lula.
"Não sei por que meu nome está nessa história. Alguém deve ter falado alguma coisa errada", disse ao ser abordado pela revista.
A publicação também procurou a segunda pessoa citada por Moro: o empresário Mário César Neves, dono de um posto de gasolina em Campo Grande. Segundo o ex-juiz, foi Neves quem ouviu a história de Nilton Alves sobre os imóveis do filho de Lula. Ele confirmou que foi procurado por um membro da "lava jato" em dezembro de 2015.
"O pessoal do Ministério Público me ligou, não sei mais o nome da pessoa, mas ela queria saber quem era o Nilton, que serviços ele prestava e como poderia encontrá-lo", disse.
O empresário também confirmou que passou ao MPF o endereço e o telefone de Alves, mas não entrou em detalhes sobre as possíveis transações imobiliárias do filho de Lula. "Eu soube que o Nilton foi chamado para prestar depoimento logo depois dessa ligação para mim", disse.
Conversas vazadas
Desde o dia 9 de junho, mensagens do Telegram atribuídas a Moro e Dallagnol têm sido publicadas pelo Intercept Brasil e outros veículos da imprensa.
A reportagem da Veja é mais um indicativo de que Moro orientou o trabalho dos procuradores da "lava jato", o que é proibido por lei. O juiz não pode indicar testemunhas a uma das partes envolvidas no processo. Além disso, mostra como o MPF levava em consideração e seguia as orientações de Moro.
QUESTIONADO
Sérgio Moro já foi questionado sobre os tais diálogos na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado e, semana que vem deve ir à CCJ da Câmara dos Deputados. Especialistas no assunto, em entrevistas aos grandes do país disseram que o ministro deviam se afastar do cargo por ter cometido erro grave quando era juiz. Ele disse que faria isso se fosse provado algum irregularidade sua. Moro tem dito ainda que desconfia da autenticidade das gravações.







