Todos os dias, moradores de Campo Grande realizam verdadeira guerra em busca de atendimento nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e UBSs (Unidades Básicas de Saúde), em uma eterna disputa por vagas e remédios. 

Para desafogar o SUS (Sistema Único de Saúde) da Capital, a prefeita Adriane Lopes (PP) prometeu, durante a última eleição, a implantação de um complexo hospitalar municipal em Campo Grande. Entretanto, o que seria alívio para a população, agora não passa de tinta seca em documento ultrapassado. 

A licitação para o Hospital Municipal foi lançada oficialmente em 2 de julho de 2024, conforme informações do Portal Nacional de Contratações Públicas. A construção “será” feita em terreno de mais de 13 mil metros quadrados, localizado na rua Augusto Antônio Mira, no bairro Chácara Cachoeira, em área considerada de ‘classe média alta’ na cidade, próximo de um hospital particular. Ainda conforme o Portal, a obra custaria mais de R$ 210 milhões dos cofres municipais. 

Em trecho do plano de campanha, a prefeita chamou o hospital de “estrutura inovadora e necessária”, construído no modelo ‘built to suit’ (contrato de locação imobiliária onde o imóvel é feito sob medida para atender as demandas do locatário), onde seria adaptada para as necessidades de Campo Grande. 

A estrutura contaria com salas de diagnóstico, 188 leitos de enfermaria, 20 CTIs (Centro de Tratamento Intensivo), dez salas de cirurgias e 49 leitos de pronto atendimento, prontos para comportar exames laboratoriais, cateterismo, biopsias, ressonâncias, colonoscopia, endoscopia, especialidades cardiológicas, neurologia, oftalmologia, pneumologista, entre outros. 

“O Complexo Hospitalar será um Centro de Ensino e Pesquisa na saúde e referência assistencial nos níveis secundário e terciário e terá capacidade para atender 1,5 mil pessoas/dia”, disse a prefeita na época. 

Com mais de um ano de promessa, até mesmo as empresas interessadas no certame entraram com pedidos de esclarecimentos e impugnações, ou seja, um pedido formal para questionar a legalidade ou validade de um processo seletivo ou licitação. A última contestação feita pelas empresas foi registrada em 25 de setembro do ano passado. 

Há um ano, um técnico em gestão pública questionou diversos pontos da licitação: ausência de previsão do fundo garantidor; informações conflitantes presentes no edital, contrato e anteprojeto; ilegalidade de cláusulas; serviços e equipamentos não incluídos no orçamento; erros quanto a valores apresentados; incongruência em termos de referência e informações; divergência de valores da proposta; possibilidade de descontos no pagamento mensal; revisão das obrigações da contratante. 

Por meio do agente de contratação Mário Justiniano de Souza Filho, da Secomp (Secretaria-Executiva de Compra Governamentais), a prefeitura negou a impugnação apresentada, alegando “não haver razões suficientes para a alteração do instrumento convocatório e seus anexos”.

Enquanto isso, a saúde da Capital entra em colapso. Em matéria publicada pelo TopMídiaNews na última semana, médicos de UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) denunciaram condições precárias de trabalho, com falta de medicamentos essenciais e exames básicos, redução salarial, sobrecarga de trabalho e superlotação de unidades. 

"Você chega no posto e já virou costume ouvir que não tem nem dipirona. E outra coisa: as farmácias só ficam abertas até meia-noite. Criança não tem horário pra passar mal, adulto também não. Às vezes até tem médico, mas não tem remédio porque a farmácia está fechada no plantão", desabafou uma manifestante durante protesto contra a prefeita Adriane Lopes (PP), realizado no último sábado (15).

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande questionando sobre a situação da licitação e do projeto, previsão para retomada do processo e início das obras, e, porque após um ano de promessa, ainda não houve processo concreto na implantação do Hospital. Confira a resposta: