Menu
quinta, 28 de março de 2024 Campo Grande/MS
GOVERNO MARÇO 2024 2
Entrevistas

Saci Pererê e lobisomem de Iguatemi: especialista destaca belezas do folclore em MS

Sempre estudando o tema, jornalista comenta aparições e destaca: já sentiu medo do assovio do Saci

27 fevereiro 2017 - 10h47

Ele nasceu em Campo Grande, cursou mestrado de jornalismo em Florianópolis/SC e estuda doutorado na UFRGS, mas foi no pequeno município de Terenos/MS, que Andriolli de Brites da Costa, de 27 anos, ouvia as histórias contadas pelos avós e a paixão pelo folclore brasileiro cresceu, se tornando um dos maiores interesses do jornalista, que se especializou no assunto.

Andriolli é um dos admiradores do tão famoso Saci Pererê e outros mitos. Além disso, ele é neto do homem que nasceu benzido contra cobra, com uma marca no peito, que seria sua proteção. "Meu avô, Oliveira Serafim da Costa, nasceu protegido contra as cobras. Ele conta que as vezes estava na roça, elas passavam perto, mas nunca foi atacado, porque nasceu benzido", conta o jornalista.

Especialista em folclore, o comunicador afirmou, diante do 'possível ataque de um lobisomem' em Iguatemi, que percebe a preocupação das pessoas em se proteger de um ataque, que foi associado a figura de um lobisomem.

Confira a entrevista completa como especialista em folclore brasileiro:

TopMídiaNews: como surgiu seu interesse pelo folclore brasileiro?

Andriolli: essa paixão veio desde pequeno, meus avós moram na zona rural em Terenos e eu sempre passava minhas férias com eles, ouvindo muitas histórias que marcaram muito. Meu avô mesmo, ele conta que nasceu benzido contra cobra, ele é do Ceará e disse que um dia foi uma benzedora na casa dele benzer todos contra picada de cobra, mas não precisou benzer ele, porque ele tem uma marca no peito, que sempre destaca que está protegido. Ele conta que vivia na roça e as cobras passavam do lado dele, mas nunca atacaram.

TopMídiaNews: qual foi a que mais marcou?

Andriolli: minha avó sempre falava do Saci que assoviava e isso assustava todos, meu pai, meus tios. Eles contam que eram perseguidos pelo Saci na saída da escola, meus primos que também moram lá sempre contam que escutam o assovio do Saci. O interessante é que a internet chegou na Zona Rural nos dias de hoje, mas tudo prevalece, meus primos contam que escutam o assovio do Saci. Tem a história dos jesuítas que foram expulsos pela Coroa da Espanha no Paraguai e tiveram que deixar os tesouros escondidos.

TopMídiaNews: já questionou sobre o assovio ser de pássaros por se tratar de uma área rural?

Andriolli: já perguntei se não seria de pássaros, mas é bem diferente de um assovio de pássaro. O assovio do Saci é aquele que sentimos bem próximo, dá aquele frio na barriga, aquele arrepio.

TopMídiaNews: já foi apontado como 'maluco' por acreditar no folclore?

Andriolli: isso já, mas eu acredito que é falta de compreensão das pessoas, eles pensam que essas histórias são de crianças, por serem retratadas na maioria das vezes de forma muito infantil, ou acreditam que é coisa de gente do interior ou de velhos. Meu objetivo é mostrar que folclore não tem idade. Tem o Juraci Siqueira do Marajá, no Pará, que fala que é filho do boto cor de rosa. Ele é taxado como maluco pelas pessoas, o boto se transforma em homem durante a noite, teria deixado o rio e engravidado uma cabocla, depois sumiu. O Juraci diz que é o capitalismo e a Amazônia é sua mãe. As pessoas tem que se atentar mais, para poder compreender.

TopMídiaNews: qual sua opinião sobre o possível ataque de um lobisomem em Iguatemi?

Andriolli: eu não conheço Iguatemi, mas eu vejo a grande preocupação das pessoas em se defender. O caso foi utilizado como alerta, eles falam que era um bicho feio e associam isso a um lobisomem. Percebemos a ligação da lenda da vida ao fato, o que importa é como aconteceu.

TopMídiaNews: você cursa doutorado em jornalismo, pretende continuar estudando o folclore?

Andriolli: vou continuar os estudos, hoje eu estou no Rio Grande do Sul e analiso muito os casos daqui. Existe um lago, que as pessoas falam que tem um polvo gigante dentro e por isso não existe nenhum tipo de navegação no local. Estou estudando essa questão, no meu doutorado eu busco muito o fotojornalismo, na parte de como é retratada a lenda, vejo a descrição da lenda e como ela é criada. Eu vou até o local, converso com as pessoas que vivem ao redor, mas todos pensam que acreditar nessas coisas é coisa de drogado, bêbado, ignoram o outro olhar para as coisas.

TopMídiaNews: tem planos para voltar para Mato Grosso do Sul?

Andriolli: não tenho planos de voltar, mas sempre visito minha família e continuo estudando folclore porque devo esse tributo aos meus avós.