Ao menos três servidores administrativos da saúde foram flagrados por uma paciente trabalhando no lugar da farmacêutica, na Unidade de Saúde Básica da Família – Sebastião Luiz Nogueira, no Jardim Los Angeles, em Campo Grande. No último caso, a denunciante quase levou para casa um anticoncepcional errado. Como lactante, ela poderia ter o leite cortado se não tivesse observado o erro.
A mulher, que preferiu não se identificar, conta que teve um anticoncepcional especial receitado pelo médico, já que os tradicionais poderiam cortar o leite do bebê. E para surpresa dela e do esposo, havia uma atendente no lugar da profissional capacitada para atender a população.
''Não é a primeira vez. Já vi um rapaz do setor de marcação de consultas trabalhando ali. Também tem um homem, que acho que é gerente da unidade, fica ali quando a farmacêutica não está'', relata.
Segundo ela, o atendente ia entregar o medicamento errado. Por sorte, o esposo dela notou o erro e pediu a troca. ''E se eu engravido? Quem vai bancar os custos? E se o leite corta, quem vai comprar suplemento?”, questiona a mãe.
Além de desfalcar o setor de marcação de consultas para atuar em outro, a situação se torna grave já que a atuação de farmacêutico demanda conhecimento específico e um medicamento trocado pode causar intoxicação grave a até a morte.
''Nós temos um conhecimento mínimo sobre remédio, e quem não tem?'', concluiu a denunciante.
Prefeitura diz que troca é legalizada
No entanto, a prefeitura diz que o procedimento é legal, utilizando como base nota técnica do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, o Conasems.
Segundo a assessoria da Prefeitura, ''a dispensação de medicamentos nas unidades básicas de saúde não é ato exclusivo de farmacêuticos, conforme deliberado em ata e publicado em nota técnica do Conselho Nacional de Secretarias Municipal de Saúde (CONASEMS) no que se refere à presença de farmacêutico nos dispensários públicos".
“Portanto, todo o profissional lotado na unidade de saúde, inclusive o gerente, pode realizar a entrega de medicamentos, com exceção de psicotrópicos e antibióticos. Esses só podem ser dispensados por farmacêuticos. Os medicamentos só são entregues com receita médica, portanto o profissional entrega o que está sendo solicitado”, destaca.
Ainda de acordo com a nota, a Sesau diz que não faltam farmacêuticos na cidade e que Campo Grande possui a maior quantidade de profissionais lotados na rede pública do país, conforme teria sido atestado pelo Conselho Federal de Farmácia.
A Prefeitura não fez nenhum questionamento acerca da quase entrega de medicamento errado na unidade.