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Cidades

Ambulantes da Capital se unem em associação e querem o fim da gritaria nos terminais

Terminal de ônibus

14 fevereiro 2014 - 07h00Por Aline Oliveira

Com objetivo de sair da informalidade e terminar com os riscos de ter o material de trabalho apreendido pela fiscalização, um grupo de 89 vendedores ambulantes formalizou desde maio do ano passado a Associação dos Vendedores Ambulantes de Campo Grande. Um detalhe que chama a atenção é que todos trabalham com venda de alimentos, sustentando suas famílias, educando os filhos e oferecendo uma verdadeira lição de determinação e honestidade.

 

A líder deste grupo é Custódia Malaquias Gomes, 51 anos, natural de Camapuã (140 km da Capital), mas, que durante muitos anos viveu no município de Angélica. “Sempre gostei de trabalhar com comida. Já tive restaurante, lanchonete, trailler, sempre vendendo comida. Mas, também nunca dispensei serviço e já trabalhei em frigorífico, bingo e até em uma usina de álcool, plantando, limpando e colhendo cana”, relata a presidente da associação.

 

Chamada carinhosamente de ‘Sol’, a ambulante inicia sua rotina ainda pela madrugada e quando o primeiro ônibus começa a circular no terminal (5h15) já está com os salgados e uma garrafa de café pronta para oferecer aos trabalhadores que utilizam o transporte coletivo. “Levanto às 2h30 da manhã e preparo tudo para levar ao terminal. Chego um pouco antes do primeiro ônibus e vendo vários tipos de salgado e café”.

 

Ela conta que há cinco anos enfrenta a rotina e começou vendendo bombons, depois mudou para chipa e ao perceber que todos os colegas vendedores vendiam o mesmo produto passou para os salgados. “Sempre fomos um grupo unido, ninguém invadia o espaço de ninguém e avisávamos uns aos outros quando os fiscais da Agetran promoviam batidas. Foram tempos difíceis, com muita violência e eles não respeitavam ninguém. Batiam em mulher, tomavam nossos produtos e ainda os consumiam na nossa frente”, desabafa.

 

Frutbinhos - os mais consumidos pelos usuários. Foto: Vanessa Ricarte

Associação – Sol conta que até 2012, os ambulantes que tinham os produtos apreendidos tinham que pagar multa de R$ 300 reais e não conseguiam reaver os vasilhames utilizados para acondicionar a comida. “Cansados de tomar prejuízo, chamamos os colegas para uma reunião em março do ano passado e decidimos montar uma associação, com ajuda do pessoal da Uman. Em maio nos formalizamos e agora que temos uma sede (alugada), pretendemos oferecer cursos profissionalizantes de informática, manipulação de alimentos e assistência jurídica”.

 

Ela conta que o grupo já possui camiseta personalizada e boné para enfrentar o cotidiano de trabalho. Recentemente pediram ajuda na Câmara Municipal para alterar a lei 2.909 de julho de 1992 que considera irregular a venda de produtos dentro dos terminais de transbordo em Campo Grande. “Queremos nos legalizar, pagar nossos impostos e trabalhar dentro do terminal. Tem espaço para todo mundo e de maneira alguma nossa atuação diminui o faturamento das lanchonetes existentes”, alegou Sol.

 

A atual administração liberou a venda dos ambulantes, mas, impôs a condição de que só vendam alimentos. “Eles disseram que podemos vender salgados, mas não pode café, água, refrigerante e bala. Outro produto que tem muita aceitação é o frutbinho, um picolé em saquinho feito de suco de iogurte. Nós queremos que liberem a venda do produto que é muito gostoso, tem aceitação ótima e não prejudica outros comércios”, acrescentou.

 

Sol acrescenta que alguns ambulantes novos não respeitam determinadas regras de boa convivência dentro dos terminais. "Quem está associado fica próximo aos pilares, já há outros que ficam bem na frente da passarela dos usuários de ônibus e acabam atrapalhando o fluxo. Outra coisa que irrita é a gritaria deles que realmente, eu admito que incomoda. Tem uns que quando me avistam chegando no terminal, aí que gritam alto. Não queremos isso", frisou a presidente.

 

Na próxima terça-feira (17), um grupo de ambulantes pretende ir até a Casa de Leis para reivindicar a liberação dos alimentos proibidos e solicitar uma lei que permita o comércio nos terminais. “Queremos trabalhar como todo mundo. Muitas pessoas que vendem conosco não tem outra renda, precisam ajudar no orçamento diário ou enfrentam problemas de saúde que impedem que tenham emprego formal”, finalizou.