Hoje, 6 de fevereiro, o menino Kauan Andrade faria dez anos. Ao invés de bolo e parabéns, lembranças e dor. Não vai ter “pique-pique” nem brinquedo baratinho de presente, nem a correria dos amigos para fugir dos trotes de aniversário. A pipa que era o brinquedo preferido, também não vai estar lá no céu, dançando como criança em festa.

A mãe, Janete, sequer pode enterrar o corpo do filho, brutalmente assassinado ao ser estuprado pelo professor Deivid de Almeida, 38 anos, que teria praticado o crime com a ajuda de outros adolescentes. O caso consternou Campo Grande e levou a reflexão do nível de maldade do ser humano, mesmo aqueles acima de qualquer suspeita.

Maria José Rainche, amiga da família, é quem lembra o aniversário do menino, que amava empinar pipa e brincar na rua. “Hoje estaria completando dez anos nosso pequeno garoto Kauan. Sua vida foi ceifada brutalmente, foi retirado dos braços de uma mãe. Quando Kauan morreu, junto com ele morreu uma família, mãe, irmãos, avós. Hoje lutam para viver o dia a dia, reconstruir é achar um motivo pra seguir. O menino que amava pipas e enfeitava o céu e o mundo com seu sorriso inocente, faltava sandálias nos pés, brinquedos eletrônicos e tantas outras coisas que outras crianças nem tão alegres como ele tinham”, diz a amiga da família e um dos principais apoios que dona Janete recebeu para que o crime não fique esquecido.

“Hoje convocamos a sociedade, autoridades e instituições a fazer  minuto de silêncio em oração por este anjo que não conseguimos salvar, que a partir de agora todos possam assumir suas responsabilidades com nossas crianças da periferia para que nenhum outro Kauan venha viver o terror do abuso. É preciso que todos estejam juntos contra pedofilia”, conclama Maria José. Ela que é a porta-voz da família, quando faltam as palavras.

Para ela, a homenagem tem ser em forma de combate. "Queríamos várias pipas brancas no céu, mas que seja então oração e proteção por nossas crianças", sugere. 

Crime que choca

Kauan despareceu no dia 25 de junho. Seria só mais um desaparecimento de criança se não fosse o desfecho trágico. O homem que cometeu o crime, um professor que era considerado “amigo” de muitos, pagava de R$ 5 a R$ 15 para manter relações sexuais com crianças e adolescentes. Isso foi dito por um dos adolescentes de 14 anos, também apreendido pelo crime. Tudo acontecia na casa de Deivid, no bairro Coophavilla II.

Pai de um adolescente, ele nunca quis dizer onde o corpo está, nem diante dos apelos da própria mãe ou da mãe do menino. As buscas mobilizaram a todos e hoje, o que fica é a lembrança do menino pobre, que virou estatística.