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Polícia

Crimes de racismo e preconceito disparam em Mato Grosso do Sul neste ano

Delegado afirma que maioria dos crimes são cometidos nas redes sociais

24 junho 2018 - 09h30Por Bruna Vasconcelos

O preconceito contra a raça e a cor ainda é um tabu a ser quebrado em pleno século 21. A afirmativa é baseada nos registros de boletins de ocorrência da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul de janeiro de 2017 até junho deste ano.

O Estado apontou cinco casos de racismo, conforme a Lei 7.716/89 onde a coletividade é discriminada, nos seis primeiros meses do ano passado. Já em 2018, a Polícia Civil recebeu seis denúncias no mesmo período de tempo. Os números de injúria racial, que consiste em ofender alguém por causa da cor, etnia ou religião, são ainda maiores.

Para algumas pessoas, existe uma linha tênue entre o que é considerado crime racial e apenas uma “brincadeira” sobre a cor da pele de outra pessoa. O que era para ser motivo de piada, vira insulto e pode, se condenado, receber uma pena de um a três anos de reclusão. 

Com o início da Copa do Mundo, viralizou uma foto nas redes sociais onde uma mulher negra abre uma porta com uma placa escrita “Copa”, na legenda a frase:  Para quem não viu a abertura da Copa, ta aí.

Alguns internautas receberam a foto no aplicativo de mensagem e classificaram como racismo despercebido e distribuído gratuitamente pelas redes onlines.

O publicitário Eduardo Vasconcellos recebeu a imagem de um amigo e não aprovou a “brincadeira”.

“O racismo passa despercebido muitas vezes devido à nossa cultura escravocrata por ainda estar bem viva. Por que não um homem branco abrindo a porta da copa cozinha? A resposta está na construção do nosso tecido social.”

Quem também viu de perto a face do preconceito foi o estudante campo-grandense P. H. A. Ele prestava serviços para um partido político quando uma colega de trabalho começou a se referir a ele como Negrinho do Pastoreio – lenda de um menino negro e pequeno, escravo de um estancieiro sem padrinhos, nem nome, apenas conhecido como Negrinho, e se dizia afilhado da Virgem Maria.

O jovem relata que no início levou o apelido como brincadeira, mas depois com a insistência, a situação começou a ficar constrangedora. 

Crime

Quem se sentir humilhado deve procurar a Delegacia Civil mais próxima para registrar um boletim de ocorrência. Paulo Henrique Sá, delegado da 3ª Delegacia de Polícia da Capital, afirmou que esses crimes são bastante recorrentes em postagens nas redes sociais.

“A pessoa vai até a Delegacia, representa, diz que quer dar procedimento no inquérito e nós vamos investigar. Tenho um caso onde um homem, no interior do Estado, que publicou um comentário contra uma Associação de Candomblé. Achamos ele pelo Facebook, confirmamos que era ele o autor da postagem e está sendo investigado como qualquer outro crime.”

No mês passado, durante uma partida de futebol, um jogador do Corumbaense sofreu o crime de injúria ao ser chamado de “macaco” durante a partida pela Série D do campeonato Brasileiro.

Foto: Anderson Gallo

Ederson Baptista de Souza, conhecido como ‘Robinho’, fez a queixa na delegacia depois de ser ofendido. Em 2015, quando defendia o Naviraiense, Robinho teria se desentendido com um torcedor no final de um jogo e também teria sido xingado da mesma forma.

Lei

Nesta sexta-feira (15), o governador Reinaldo Azambuja sancionou uma lei que institui o Cadastro Estadual dos condenados por racismo ou injúria racial no Estado.

Serão colocadas no sistema as pessoas condenadas, com decisão transitada em julgado, pelo crime de racismo e/ou crime de injúria racial definidos em lei. O cadastro deverá conter os dados pessoais completos, foto e características físicas. Além de idade do cadastrado e da vítima, endereço atualizado do cadastrado e histórico de crimes. 

A listagem será de livre acesso às policias Civil e Militar, membros do Ministério Público e do Poder Judiciário.