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Política

13/07/2019 11:16

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Declaração de Eduardo Bolsonaro é alvo de críticas de ambulantes

Ele disse ter fritado hambúrgueres nos EUA alegando experiência para carreira diplomática

No Largo da Carioca, o ambulante João Paulo Farias, de 33 anos, frita uma média de 100 hambúrgueres por dia. Uma rotina que começa às 7h e só termina por volta das 22h30. Além de preparar os sanduíches, João Paulo empurra a carrocinha desde a Central do Brasil, vai ao mercado, organiza os alimentos e atende os clientes. O trabalho puxado faz João Paulo duvidar de Eduardo Bolsonaro. Cogitado pelo pai e presidente Jair Bolsonaro para assumir a Embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos, alegou ter fritado hambúrguer no país estrangeiro como uma experiência que o capacitaria para o cargo. Entre os chapeiros da vida real, que passam os dias na chapa quente, a declaração passou do ponto.

"Para mim, soou como um deboche. Quer dizer que minha experiência no Largo da Carioca também me qualificaria para ser embaixador? A realidade dele não é essa. Dá para ver que todos os filhos do presidente já nasceram políticos", criticou João Paulo, que toca a barraca JP Lanches desde que chegou de Nova Russas, no Ceará, em 2013.

CALOR DE 50 GRAUS

Na declaração à imprensa, ontem, além de ter citado intercâmbio no exterior, o deputado federal Eduardo Bolsonaro disse ter sido chapeiro "no frio do Maine, cidade que faz divisa com o estado do Canadá". Para João Paulo, o brabo mesmo é fritar hambúrguer no verão carioca: "Quando está aquele sol de 40 graus, a temperatura perto da chapa passa dos 50".

Cliente da barraca JP Lanches, o guardador de carros Ruben Rangel Júnior, de 46 anos, também não digeriu bem a declaração de Eduardo Bolsonaro. "Isto está muito clichê, totalmente fake. Ele é uma das poucas pessoas no país que pode bater no peito e dizer: 'Não conheço a dor, a tristeza, a penúria e o sofrimento'".

O aposentado Joaquim Pereira, de 66 anos, que trabalha na barraca Marli Lanches, na Rua Graça Aranha, conhece. Ele conta que interrompeu os estudos aos 16 anos para ajudar a família a pagar o aluguel. Na rua, vende lanches desde 1988. "Estou ficando cansado. Acordo às 4h55 todos os dias. Às vezes, sento um pouco aqui na barraca e acabo cochilando. Mas não posso parar, a aposentadoria não é suficiente. Gostaria de ter feito faculdade de Artes Cênicas. Queria ter sido ator".

Irmã de Joaquim, Marli Pereira, de 72 anos, o acompanha no serviço. Ela lamenta a falta de oportunidade do irmão para estudar. "Ele é muito inteligente, nunca repetiu o ano na escola. Poderia estar em situação melhor".

Para a chapeira Zenauba Araújo, de 46 anos, a vida no Centro do Rio também não é nada fácil. E vem piorando. Com o alto índice de desemprego, as barraquinhas se multiplicaram pela região, o que está reduzindo as vendas dia após dia. "Com isso, tive que aumentar a carga de trabalho". Sobre a declaração de Eduardo Bolsonaro, comentou: "Sempre vem alguém da alta dizer que teve emprego humilde em busca de simpatia".

LOBBY EM FAMÍLIA

Eduardo se reuniu, ontem de manhã, no Itamaraty, com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. "Ele expressou apoio". Disse, ainda, que espera se reunir com o pai até domingo.

OS CRITÉRIOS

Embaixadores costumam ser escolhidos entre os ministros. Há previsão de que pessoas sem carreira diplomática possam assumir o posto, desde que sejam brasileiros, maiores de 35 anos, de reconhecido mérito e com relevantes serviços ao país.

CRÍTICAS

O assunto gerou críticas de políticos, diplomatas e juristas. "O Brasil, mais uma vez, será motivo de chacota. Vergonha", postou o deputado Marcelo Calero (Cidadania-RJ). Segundo o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, a indicação configura nepotismo. Ele disse que a Constituição afasta a possibilidade de o presidente nomear o filho.

AMIZADE COM TRUMP

Jair Bolsonaro defendeu a escolha dizendo que o filho fala inglês e espanhol. E tem amizade com os filhos de Donald Trump, presidente dos EUA. "Não estou preocupado com crítica".

SENADO DIVIDIDO

Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o senador Nelsinho Trad (PSD) defendeu o direito de indicação de Jair Bolsonaro. "Ele (Eduardo) tem as virtudes dele, que o fizeram e o credenciaram para poder ser cogitado a ocupar esse posto. Não vejo nenhuma aberração nesta história". O vice-presidente da comissão, Marcos do Val (Cidadania), é contra por considerar que o posto precisa ser ocupado por alguém experiente.

PARA SER NOMEADO

Para exercer o cargo diplomático, Eduardo precisa passar por uma sabatina e votações na Comissão de Relações Exteriores do Senado e no plenário da Câmara. O filho do presidente ainda precisaria renunciar ao seu cargo de parlamentar.

 

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