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Política

30/08/2018 07:00

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Dono de site assassinado teria 'negociado' com 3ª Vara liberação de bens

Para Odilon de Oliveira, depoimento de ex-diretor da Justiça Federal tem 'fundo político'

Dono do extinto site “UH News”, Eduardo Carvalho, conhecido como Carvalhinho, morto a tiros em novembro de 2012, em Campo Grande, teria agenciado, isto é, negociado sentença que liberou bens de um traficante, conduzida na 3ª Vara Federal, então chefiada pelo juiz federal agora aposentado Odilon de Oliveira, candidato ao governo de Mato Grosso do Sul pelo PDT.

É o que diz o advogado Jedeão Oliveira, 49, num depoimento de 23 páginas que registrou na cidade de Bauru, interior de São Paulo, documento entregue depois ao MPF (Ministério Público Federal), em Campo Grande. TopMidiaNews teve acesso aos papeis.

Jedeão foi contratado por Odilon como funcionário de confiança da Justiça Federal, em 1995. O advogado é filho de um primo do juiz aposentado. Odilon ofertou o emprego, segundo Jedeão, por gratidão. O juiz aposentado teria tido a educação escolar por força e dedicação do pai de Jedeão, daí o reconhecimento com o emprego.

Ocorre que em julho de 2016, Odilon de Oliveira, demitiu Jedeão depois da descoberta do sumiço de R$ 11 milhões da 3ª Vara. Quem cuidava do dinheiro apreendido com investigados, por exemplo, seria Jedeão. O recurso deveria ser depositado numa conta judicial e, se o dono dele, normalmente traficante, fosse condenado, a soma ia para uma conta federal.

Do contrário, o dinheiro devia ser devolvido ao réu. Indignado com a demissão e culpado “sozinho” pelo desaparecimento da dinheirama, Jedeão prestou depoimento acreditando que o MPF use-o como delação premiada. No caso, o ex-diretor da secretaria da 3ª Vara aliviaria eventual sentença. Odilon de Oliveira disse ter sido enganado por Jedeão.

AGENCIAMENTO

No depoimento, Jedeão diz que a 3ª Vara Federal devolveu bens do traficante Luiz Henrique Rodrigues Georges, conhecido como Tulu. E quem teria negociado a liberação com a corte seria Eduardo Carvalho.
O ex-servidor disse ter sabido da negociata por meio de uma ligação telefônica de um morador da fronteira com o Paraguai.

“... que um amigo do Dr. Odilon de nome Eduardo Carvalho estava vendendo uma decisão que iria liberar os bens do traficante Luiz Henrique Georges, o Tulu, e que estava cobrando trinta mil reais por essa decisão”, teria dito o informante a Jedeão que, segundo depoimento dele investigou o caso e constatou veracidade na denúncia.

“Eduardo Carvalho era um sujeito escroto que mantinha um site de ‘notícias’, onde a sua principal atividade era criar notícias falsas que poderiam gerar para ele ‘mensalidades’ em repetidos atos de extorsão que ele costumava praticar. Sim! Isto era notório em todo o Estado de Mato Grosso do Sul. Todos sabiam. Menos o juiz Odilon de Oliveira, pois nutria com ele uma grande amizade, daquelas de participar em churrascos na casa do magistrado”, diz parte do testemunho Jedeão Oliveira.

O ex-diretor de secretaria da 3ª Vara disse que depois da ligação cujo número do aparelho era confidencial foi apurar em que pé estava o caso do tal Tulu.

“Lá [3ª Vara] chegando, verificou que o processo não havia sido baixado para a Secretaria com a nova decisão e ficou aguardando a chegada do juiz federal titular, para verificar a providência que ele havia tomado. Para sua surpresa, quando o juiz chegou, constatou qual tinha sido a decisão. Exatamente igual aquela pessoa tinha descrito ao telefone. Ou seja, estava evidente que o juiz participava daquelas negociações”, declarou Jedeão no depoimento.

Segue o ex-diretor: “Este caso, da liberação dos bens do Tulu, o declarante havia compartilhado com os servidores Jânio Alves de Souza e Fábio Guilherme Monteiro Daroz. Dias depois de todo o ocorrido, o Fábio e o Jânio chamaram o declarante para que ele fosse ver algo no celular de um deles. Era uma foto que havia sido publicada numa rede social pelo tal Eduardo Carvalho, onde posavam na foto Eduardo, Odilon pai e Odilon filho, num churrasco, na casa do magistrado. A foto havia sido publicada por Eduardo Carvalho e a legenda falava de amizade”.

ADMINISTRAÇÃO DE IMÓVEIS

Depoimento de Jedeão revela ainda que a filha de Eduardo, a advogada Anna Cláudia Carvalho, a mando do então juiz ficou por um tempo responsável pela administração de imóveis confiscados de investigados pela 3ª Vara.

“O trabalho da administradora era baseado na locação dos imóveis e no arrendamento de algumas áreas rurais. E assim foi feito. E assim os problemas começaram a surgir. No começo eram as prestações de contas mensais que não eram mais feitas. Depois a bagunça com as contas judiciais onde eram depositados os valores dos aluguéis e dos arrendamentos. Depois, foi o sumiço de valores e a constatação de que inquilinos haviam pago o aluguel e que não constava depósito e nem qualquer outro tipo de prestação de contas”, diz Jedeão em trecho do depoimento.

Ainda segundo o ex-diretor da 3ª Vara, Odilon teria feito vista grossa aos supostos erros da advogada filha de Eduardo Carvalho.

“... o juiz parecia cada vez mais irado e descontava toda aquela ira sobre os funcionários da Secretaria. Assim, ele proferia despachos, chamando a atenção dos funcionários e também editava portarias para exigir mais rigor na fiscalização daqueles serviços. Mas, tudo não passava de mais uma farsa do juiz, para ficar demonstrado que ele estava tomando providências necessárias, para o bom andamento dos serviços e que, depois, poderia tranquilamente jogar a culpa nas costas dos seus funcionários, mandando instaurar procedimentos administrativos”, afirmou Jedeão no depoimento.

Jedeão diz ainda que o então juiz diferenciava no tratamento os servidores da 3ª Vara com a advogada. Para uns, o magistrado estaria extremamente irritado com serviço de administração de bens dos investigados.

“Tudo isso estava evidente para alguns servidores da Secretaria, pois, quando Ana Cláudia Carvalho chegava na Secretaria da Vara e pedia para falar com o magistrado, que anteriormente estava extremamente irritado com os serviços da administradora, assim que ela saia do gabinete ele já estava tranquilo. Parece que não existia problemas”, contou Jedeão.

FIM DO CONTRATO

Jedeão narra ainda as circunstâncias que determinaram o fim do contrato com a advogada:
“Muito tempo depois, é que a administradora foi descredenciada. No período em que ela estava atuando, era comum chegar informação de que ela arrendava determinada área rural por um valor, mas fazia constar no termo de arrendamento somente a metade daquele valor. Ao pagar pelo arrendamento a pessoa sabia que 50% eram depositados na conta judicial e os outros 50% eram da administradora. Será que era só dela? O que eles tratavam quando ela entrava no gabinete do magistrado e o acalmava?”.

ODILON NEGA

Ao jornal Folha de S. Paulo que noticiou parte do depoimento, o juiz disse que Jedeão “enganou o juiz da vara, enganou a corregedoria” e por isso as 13 correições feitas pelo TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região não teriam localizado as irregularidades na vara. Odilon afirmou ainda ao jornal que as acusações contra ele “têm fundo político”.

 

 

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