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Saúde

10/12/2018 16:43

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À espera de prova para validar diploma, médico cubano trabalha como motorista de aplicativo

Exame do governo federal para validar diplomas emitidos no exterior, o Revalida, não foi realizado em 2018

O médico cubano Yurian Enrique Ramayo Pérez, de 36 anos, soma 12 anos de experiência em emergência médica, mas não pode exercer a profissão no Brasil porque o exame do governo federal para validar diplomas emitidos no exterior, o Revalida, não foi realizado em 2018.

Yurian veio para o Brasil em 11 de outubro de 2017, mas, ao contrário de milhares de médicos cubanos, não chegou a atender nenhum paciente dentro do programa Mais Médicos. O motivo da viagem para Brasília foi outro: encontrar, em Brasília, a namorada brasileira. Na capital, eles se casaram meses depois.

"Procurei emprego em quase todos os hospitais, para tentar uma vaga administrativa, mas ninguém me chamou. Fiz a prova para a emergência do Hospital de Base [do DF] e, entre 200 médicos, passei em 12º lugar. Fiquei muito feliz, mas me informaram que, sem o Revalida, não posso trabalhar", relata.

Atualmente, Yurian dedica de oito a dez horas por dia trabalhando como motorista de aplicativo. Com o salário que ganha, ajuda a esposa nas despesas da casa e paga a prestação do carro que precisou comprar para trabalhar. "Estou trabalhando todos os dias, no fim de semana também. Preciso pagar o financiamento e o seguro, dá mais ou menos R$ 2,5 mil por mês."

"Em Cuba, eu ganhava 60 dólares por mês, tinha que economizar. Mas lá quase tudo é de graça, com esse dinheiro dá para viver."

Ele se formou em 2006 na Universidad Médica de Las Tunas, onde fez especialização como médico da família e intensivista. O último local em que trabalhou como médico foi no Hospital Cirúrgico Dr. Ernesto Guevara, também em Las Tunas, cidade onde morava.

Sem previsão

Em nota enviada ao G1, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disse que não organizou o Revalida em 2018 porque a segunda etapa do exame em 2017 só foi aplicada em 17 e 18 de novembro de 2018, sendo necessária a conclusão desse processo para marcar uma nova prova.

"O Inep se pronunciar dizendo que não tem previsão nenhuma [para a próxima prova] é muito ruim", lamenta Yurian, que diz ter passado seis meses só estudando para a prova do Hospital de Base.

Para ele, dirigir nas ruas da capital foi positivo porque, assim, ele conseguiu praticar a língua portuguesa. Mas esse pequeno conforto não afasta a saudade de atender em um hospital. "Eu quero trabalhar onde realmente precisem de mim", afirma.

"O que mais tenho saudade é da adrenalina de salvar vidas, esse trabalho na emergência é muito gratificante. Eu tentei trabalhar como voluntário na fronteira de Roraima com a Venezuela, mas também não consegui porque ainda não tenho registro de médico no Brasil", conta.

"Eu ainda não estou 100% feliz aqui, eu quero a minha vida profissional aqui também."

A prova

O Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeira (Revalida) é um teste obrigatório para que brasileiros e estrangeiros que se formaram em medicina fora do Brasil possam exercer a profissão de médicos no país.

Segundo o Inep, o custo com a prova de habilidades clínicas na edição 2016 foi de R$ 18 milhões para cerca de 2,3 mil inscritos – quase R$ 7,6 mil por candidato. A inscrição custava R$ 150 na primeira fase e R$ 300 na segunda etapa. De acordo com o instituto, há “um grande desequilíbrio monetário” para a operacionalização do certame.

As nacionalidades que mais buscam a validação do diploma de medicina no país são brasileiros, bolivianos, peruanos, colombianos, argentinos e paraguaios.

Na semana passada, o ministro da Saúde, Gilberto Occhi, defendeu na audiência pública da Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso Nacional que o exame seja mais "rápido, permanente e constante": "Queremos estabelecer uma regra que possa tornar mais ágil o processo de certificação dos profissionais".

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