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Polícia

17/11/2017 13:04

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Vítima de bullying e revenge porn, adolescente não tem descanso nem após a morte

Depois da violência que sofreu em vida, Karina foi vítima de mais um crime ao ter imagens do suicídio divulgadas

Karina Saifer Oliveira, 15 anos, é descrita como uma jovem inteligente, com sonhos de ser delegada e todo um futuro pela frente, mas teve a vida interrompida de forma trágica no último dia 7. Estudante do 1º ano do Ensino Médio em Nova Andradina, cidade distante cerca de 300 quilômetros de Campo Grande, ela cometeu suicídio após ser vítima de bullying e revenge porn.

Bullying, uma palavra difícil para definir agressões psicológicas ou físicas repetitivas, cometidas individualmente ou em grupo, que causam dor e angústia à vítima, no caso de Karina, veio acompanhada de revenge porn, outro termo em inglês para designar a divulgação de fotos íntimas sem o consentimento da pessoa.

E para Karina, as violências não acabaram aí. Mesmo depois de perder a vida, a adolescente teve o corpo, mais uma vez, violado com o vazamento de imagens do seu suicídio, cometido na varada de casa. Quem conta a história dessa menina é o portal BuzzFeed News, site de alcance nacional, que conversou com a família da vítima em Mato Grosso do Sul.

Para o portal, Angela Saifer, 46 anos, contou que estava no trabalho, em uma usina açucareira, quando teve o último contato com a filha, uma mensagem no WhatsApp em que a jovem perguntava se poderia sair de casa para fazer um trabalho escolar. Eram cerca de 13h30 do fatídico 7 de novembro.

Naquele dia, Karina almoçou na casa da mãe, junto com o padrasto. Porém, quando Angela voltou da usina, não a encontrou no quarto. "Ela era bem estudiosa. Até no dia em que aconteceu isso daí, ela me mandou uma mensagem, falou: 'mãe, posso ir fazer um trabalho? preciso de nota'. Eu perguntei onde era e ela não respondeu mais. Aí eu fiquei meio preocupada, mas pensei que ela tivesse saído".

Karina, no entanto, ficou em casa. Enforcou-se na varanda. "O celular dela estava em cima da cama. Chamei: 'Karina!'. Ela não respondeu. Eu vi a porta do fundo aberta. Deixei minha mochila em cima da mesa. Na hora que eu cheguei no fundo, deparei com aquela cena. Jesus Cristo! Eu não desejo isso para mãe nenhuma. A gente não sabe o que passa na vida da gente. Se eu soubesse...", contou Angela, em entrevista ao BuzzFeed News.

Segundo a mãe, Karina não dava sinais claros dos problemas que enfrentava. "Ela sempre foi muito meiga. Ultimamente ela sentava no meu colo, jogava as pernas para o lado, ficava passando a mão na minha cabeça. Eu perguntava se estava acontecendo alguma coisa. E ela dizia que não. Só tô te abraçando, ela dizia. Eu não sabia de nada."

Bullying

A adolescente tinha sonhos comuns da idade como uma festa de 15 anos, se graduar em Direito e passar em um concurso para delegada. Mas, ao mesmo tempo, vivia um inferno pessoal na escola Nair Palácio de Souza, onde estudava. Os problemas são relatados pelo pai, Aparecido Oliveira, 47, agente de segurança do mesmo colégio público.

Karina sofria perseguição de colegas, que implicavam com ela, especialmente seu cabelo afro. "Ela era muito perseguida na escola. Depois que ela morreu, nós pegamos mensagens de alunos no WhatsApp dela, de ódio, de alunos que zoavam o cabelo dela por ser meio afro, porque ela usava chapinha. Vinham há mais de ano provocando ela", revela Aparecido.

Revenge Porn

Somado a isso, conforme revela o BuzzFeed News, a jovem conheceu, aos 14 anos, um rapaz de 17 com quem teve uma relação sexual. A história se espalhou pela cidade, de apenas 50 mil habitantes, e pela escola, de 900 alunos. Havia a fofoca de que ele divulgou fotos íntimas dela, como um troféu. A família não sabe se as fotos existiam de fato, mas o dano psicológico foi real.

"Faz dois meses ela veio conversar comigo que ela estava se sentindo uma pessoa vulgar porque tinha acontecido isso com ela. Eu disse que não tinha nada a ver", contou o pai de Karina, Aparecido. "Eu só soube o que aconteceu depois que o rapaz já não estava morando na cidade".

Vilipêndio de cadáver

Depois de passar por tudo isso em vida, Karina ainda foi vítima de mais um crime após a morte. As fotos do seu corpo desfalecido na varanda de casa foram divulgadas nas redes sociais, chegando até uma de suas irmãs através de um grupo de WhatsApp. O caso, como era de se esperar, revoltou a família, que prestou queixa na 1º DP de Nova Andradina.

A família afirma que apenas o perito e a polícia estiveram no local e não tem ideia de como as fotos vazaram. Para o BuzzFeed News, o delegado Luiz Quirino Antunes Gago afirmou que apura se houve quebra de sigilo funcional de quem trabalhou no acompanhamento do caso, mas negou que as fotos foram divulgadas por parte dos policiais.

Nos próximos dias os laudos de necropsia devem confirmar o suicídio por enforcamento de Karina. Mas as denúncias de bullying, dificilmente terão efeito penal. "Até existe um crime no Código Penal [artigo 122], de instigação ao suicídio, mas seria uma coisa de causa direta. No caso do bullying, tem um efeito simbólico sobre o suicídio, mas não fala diretamente para a pessoa [se matar]", finalizou o delegado.

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