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Campo Grande

Grupo abandona filhos para sustentar vício de drogas debaixo de ponte na Capital

'Não somos noiados, somos usuários sim e trabalhamos para manter nosso vício', diz usuária

01 novembro 2018 - 07h00Por Dany Nascimento

Fazer julgamento do comportamento do outro é muito fácil, mas quantas vezes você já parou para se colocar no lugar daquele que está sendo julgado? Alvo de diversas críticas, um grupo de desabrigados que mora debaixo da ponte´do córrego Anhanduí no cruzamento da Avenida Ernesto Geisel com a Avenida Manoel da Costa Lima sente isso no dia-a-dia.

Eles confirmam que são usuários de drogas e até sonham com dias melhores, mas o vício fala mais alto. Mãe de quatro filhos, Silmara Soares, 23 anos, que resolveu se tornar moradora dos acampamentos montados debaixo da ponte afirma que já tentou fugir das drogas, mas fracassou.

“Eu já fiquei quatro meses sem nada, mas depois não consegui me segurar mais. Eu tenho quatro filhos, um fica com a minha mãe e os outros três, meu cunhado que cria. Moro aqui com meu marido, somos usuários e acabamos perdendo tudo que tínhamos. Eu queria sim sair dessa vida, ter uma vida normal, em casa com minha família, mas é muito difícil”, diz a usuária.

Silmara afirma que come o que ganha no semáforo e diz que não troca alimento por drogas. “Nós comemos o que as pessoas trazem, eles dão marmita. As pessoas pensam que só usamos droga, mas também temos fome. Não trocamos por drogas o alimento que ganhamos, dividimos e comemos. Somos usuários sim, vendemos halls, gominha, copos e assim vamos sustentando esse vício. Para quem está de fora, é muito fácil falar que não saímos porque não queremos, mas só nós sabemos como é difícil, é uma vida que não desejamos para ninguém”.

Dona do acampamento decorado com lençóis, Vânia Regina Gonzalez, 38 anos, mãe de três filhos, afirma que está no local há cinco anos, afirma ao TopMídiaNews que as pessoas fazem falso julgamento dos moradores da ponte. “As pessoas acham que somos noiados e não é isso, somos usuários. Vendemos as coisas no sinal para sustentar o nosso vício e para comprar nosso alimento. Ganhamos moedas, juntamos e compramos gominha, halls para vender. Trabalhamos também com a venda de copo. As pessoas julgam sem saber o que realmente acontece”.

Ela destaca que já ficou três meses limpa, mas acabou voltando para o caminho das drogas. “Eu fiquei sem, mas passava mal, vomitava, tremia, fiquei mal. Meu organismo é viciado nisso, eu até sonho com isso, já sonhei que estava com a mão fechada com droga e acordei olhando a mão e não tinha nada. Moramos aqui, não fazemos mal para ninguém, o pessoal do posto conhece a gente”.

Questionada sobre os meios de sobrevivência utilizados debaixo da ponte, Vânia explica que o grupo ganha água dos comércios ao redor para tomar banho e o miojo é quase que a refeição diária. “Comemos muito miojo porque é fácil de fazer. Pegamos água com galões, colocamos em um carrinho de bebê que temos e trazemos para tomar banho aqui. Muitas pessoas acham que tomamos banho com a água do córrego, que é esgoto, mas não tomamos”.

Sobre aceitar ajuda do Poder Público, Vânia afirma que o grupo não consegue se adaptar as regras do CETREMI (Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante). “Eles têm regras que não conseguimos cumprir. Aqui podemos sair e voltar, podemos ir ali no semáforo trabalhar e voltar depois. Lá não, temos que obedecer às regras que eles querem”.  

Prefeitura

O TopMídiaNews entrou em contato com a prefeitura da Capital para saber se existe algum projeto para ajudar os usuários que residem debaixo da ponte, mas até o fechamento desta matéria, nenhuma resposta foi encaminhada.