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09/03/2017 17:00

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Tratamento de câncer em MS aposta no modelo de Barretos com foco na eficiência

Apesar de muito criticada, a terceirização tem revelado eficiência com qualidade, baixo custo e conforto aos pacientes

O tratamento de câncer em Mato Grosso do Sul é realizado quase que em sua totalidade por meio de entidades filantrópicas, que são hospitais como o do Câncer Alfredo Abrão, Santa Casa, Evangélico de Dourados e Instituto do Câncer de Três Lagoas. Apesar de muito criticada, a terceirização - ou privatização como é comumente conhecida, é o modelo adotado por importantes hospitais como o do Câncer de Barretos, que ao longo dos anos se tornou uma das referências nacionais em diagnóstico e tratamento da doença.

Os adeptos da modalidade têm como foco a “eficiência”, alegando que o sistema público se encontra sucateado e com poucos profissionais especializados à disposição. O Governo de Mato Grosso do Sul mostra que está apostando na terceirização, a exemplo dos governos (também tucanos) de São Paulo e Goiás, com a recente contratação de uma Organização Social (OS) para gerir o hospital de Ponta Porã e das cirurgias eletivas ortopédicas realizadas em pacientes do SUS no conforto de hospitais particulares como o Santa Marina, por exemplo.

A reportagem questionou o secretário Estadual de Saúde, Nelson Tavares, sobre os motivos da não aplicar os recursos do SUS no sistema público de saúde e qual o objetivo dessa mudança de rota no tratamento. Médico cardiologista, Tavares afirma que o motivo para adotar esse modelo, que por sinal está dando certo em vários lugares, é uma só: eficiência.

"No caso específico do tratamento do câncer, as principais Unacons (Unidade de Alta Complexidade em Oncologia) habilitadas pelo Ministério da Saúde em nosso Estado são terceirizadas. Na verdade esses serviços sempre foram terceirizados, inclusive em grande parte do Brasil e nos maiores centros mundiais. E isso tem apenas uma razão: porque são mais eficientes, fazem a cobertura do grande volume de atendimentos, suprindo a demanda por um custo muito inferior que o serviço público vem nos custando", explica.

As Unacons são hospitais que possuem condições técnicas, instalações físicas, equipamentos e recursos humanos adequados à prestação de assistência especializada de alta complexidade para o diagnóstico definitivo e tratamento dos cânceres mais severos. Esses hospitais podem ter em sua estrutura física a assistência radioterápica ou então, referenciar formalmente os pacientes que necessitarem desta modalidade terapêutica.


Conforme dados fornecidos pela Secretaria de Saúde, na atual situação do sistema público de saúde, que não possui possibilidade alguma de aumentar o financiamento de serviços, a saída é deixar a questão político ideológica de lado e apostar naquele prestador de serviço que una qualidade com quantidade. “Hoje nós levamos em consideração o quanto aquele fornecedor consegue entregar em serviço de qualidade, no menor custo possível. A Saúde passou da hora de sair do volume de recurso para financiamento e entrar na era da eficiência da aplicação desse dinheiro, até porque não temos de onde tirar novas fontes”, destaca.

O modelo adotado como exemplo para implantação em Mato Grosso do Sul é o do Hospital do Câncer de Barretos. Conforme Tavares, de um modo geral, a maioria dos locais onde o serviço de tratamento oncológico está instalado no Brasil é privatizado e possui excelência em diagnóstico, tratamento e cirurgia.

 “O tratamento em um hospital como o de Barretos, por exemplo, custa quatro vezes menos que o prestado pelo serviço público e ninguém questiona a terceirização dessa unidade. Então, se estamos vendo essa mudança, vamos estatizar por exemplo? Não. O governo está inclusive fechando uma parceria, que se encontra em estágio bastante avançado, de usar essa expertise da área privada, para entregar um serviço melhor à população, com menor custo. O governador Reinaldo Azambuja e eu estivemos por diversas vezes tratando esse assunto com Henrique Prata, que é diretor-geral e filho do casal de médicos fundadores do Hospital do Câncer de Barretos. A nossa prioridade é oferecer a possibilidade de cura para as pessoas”, afirma o secretário.

Tavares lamenta que hoje, não exista um levantamento preciso de quanto tempo o paciente leva do diagnóstico da doença até a primeira sessão de quimioterapia, por exemplo. Segundo ele, hoje em Mato Grosso do Sul não há uma fila grande de tratamento de câncer porque se faz pouco diagnóstico.

“Essa é a realidade e uma situação muito ruim. Também o primeiro ponto que estamos trabalhando junto com Barretos. A proposta do governador é zerar a fila de pacientes, como aconteceu naquela região, que há cinco anos não registra um diagnóstico de câncer grave porque está atenta. Nossa parceria com o hospital inicia nesse sentido. Temos um planejamento de fazer 100 mil exames de mamografia por ano e 130 mil coletas de câncer de colo de útero. Além disso, devemos receber um novo aparelho de radioterapia. Temos resolvida a questão cirúrgica e a quimioterapia, seguiremos trabalhando por ora com a parceria pública na área privada”, conta.
Com os tratamentos disponíveis hoje, 60% dos pacientes sobrevivem. Mas muitos ainda sofrem por falta de diagnóstico precoce, o que diminui as chances de cura.

Dados da secretaria revelam que Mato Grosso do Sul possui atualmente 40 mamógrafos, mas que não funcionam o tempo todo ou não tem profissionais capacitados para operá-los. O secretário pontua que com um quinto do número de equipamentos disponíveis, vai tocar as centenas de milhares de diagnósticos precoces, evitando assim que muitas vidas se percam por conta dessa agressiva e avassaladora doença.

“Nossas equipes têm consciência que a precocidade de diagnóstico é fundamental para reduzir e até mesmo evitar a mortalidade por câncer. Para isso é preciso investimento, que os recursos financeiros sejam bem aplicados. Mas não fazendo mais do mesmo e sim aplicando esse dinheiro de forma eficiente. Para fazer os mais de 200 mil diagnósticos, por exemplo, nós precisaremos de apenas oito mamógrafos, desde que estejam funcionando o tempo todo”, revela.


Aprender com aqueles que deram certo
Para promover a revolução no tratamento de câncer no Estado, Tavares explica que a receita é simples: aprender com aqueles que deram certo. Ele citou um dos maiores centros de excelência oncológica do Brasil: o Icesp (Instituto do Câncer de São Paulo), maior hospital público no país, especializado no combate à doença. Não cobra nada de ninguém. Mas só atende pacientes com diagnóstico positivo, de tumor maligno.

“Nas atuais condições em que se encontram as estruturas públicas, não temos como e nem os pacientes terão tempo de vida, para tornar nossas unidades em um centro como o Icesp. Nosso foco é salvar o maior número de vidas possível. Temos feito muitos enfrentamentos por isso, de gente acomodada ou mesmo beneficiada pelo atual estágio em que o tratamento de câncer se encontra em nosso estado.  No hospital de Ponta Porã compramos uma briga parecida. Hoje a OS que está lá funciona bem e entrega o triplo do serviço por menos da metade do custo. É importante aprender e estamos dispostos a discutir esse assunto com profundidade. E reforço que vamos utilizar de forma mais adequada o recurso para entregar mais serviços à nossa população, doa a quem doer”, ressalta.

O secretário afirma que as parcerias no tratamento de câncer não deram certo na gestão anterior devido à ineficiência do poder público em fiscalizar a capacidade de gestão dessas entidades. Tavares destaca que hoje, as medidas são tomadas preventivamente, como a criação da organização social que possui uma das melhores leis do Brasil. Além disso, diz que a ampliação do número de atendimentos oferecidos pelo ente público vai reduzir expressivamente a judicialização da saúde, a qual vem se tornando um verdadeiro câncer para o sistema jurídico, bem como corroendo os cofres públicos em todo o país.

“Gastam-se milhões com a judicialização e a situação segue a mesma, com hospitais que ainda depositam pacientes pelos corredores. Não adianta responsabilizar o sistema bancário mundial para não cumprir com o que precisa ser feito. Também não há dinheiro novo. Temos que usar o recurso que está ai e fazer o máximo possível, com melhor qualidade. Na Caravana da Saúde fizemos mais de 50 mil cirurgias, que se não tivessem sido realizadas, muitas delas teriam sido judicializadas. Uma ação judicial não custa menos de R$ 5mil e não podemos desperdiçar esse dinheiro. Para se ter uma ideia do absurdo, há cirurgias na Justiça de mais de R$ 150 mil, idênticas as que estamos realizando nos hospitais particulares pagando R$ 10 mil”, aponta.

Por fim o secretário afirma que a saúde pública precisa deixar de “ser coitadinha” e se esconder atrás da falta de recursos e de gestão para solucionar o problema. “É claro que não conseguimos resolver tudo o tempo todo e num curto período de dois anos. Mas podemos dar um exemplo de atendimento médico como o que estamos realizando em Coxim. Já conseguimos ortopedia, ginecologia e obstetrícia, cirurgia geral e estamos resolvendo a hemodiálise, urologia e cardiologia. Então os pacientes dessas áreas não virão mais para Campo Grande. Essa é a mudança que queremos propor. Sou da iniciativa privada, estou aqui de passagem, mas enquanto estiver na secretaria vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para levar mais atendimento de qualidade e salvar a vida das pessoas”, conclui.

FOTOS: Pacientes em tratamento no Hospital de Barretos - Filipe Recondo/Époc

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