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Alunos de escola dizem em tarefa escolar que Bolsonaro “vai matar viados”

Estudantes do 3º ano do ensino fundamental desenharam em cartazes o político portando armas de fogo

30 outubro 2018 - 09h53Por Da redação / Metrópoles

Uma atividade feita por alunos de um colégio da rede pública no Guará I no Distrito Federal, chamou atenção de quem foi às urnas no local nesse domingo (28). No mural de uma das salas usadas como seção eleitoral, havia cartazes feitos por estudantes do 3º ano do ensino fundamental com a afirmação de que votariam em Jair Bolsonaro (PSL). O motivo? O presidente eleito “vai dar armas para as crianças, adultos e velhos” e “matar os viados [sic]”, segundo os alunos, que têm em média 8 anos de idade.

Na tarefa, intitulada “se eu pudesse votar”, eles demonstraram apoio tanto ao político vitorioso quanto ao candidato derrotado, Fernando Haddad (PT). Porém, foram as declarações e desenhos sobre Bolsonaro que despertaram a atenção dos eleitores, porque neles o deputado federal aparecia portando armas de fogo, como pistolas e metralhadoras.

Num dos cartazes, um estudante disse que votaria no político porque “ele parece que vai ser um bom presidente, mesmo que ele tenha preconceito”.

“Tenho o costume de reparar nos murais das escolas. Quando vi, achei inacreditável. Não entendi a intenção, se era uma forma de protesto ou um descuido”, contou uma eleitora que votou na Escola Classe 2. Ela não quis se identificar.

O Metrópoles esteve nesta segunda-feira (29/10) no centro de ensino, onde estudam crianças do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Os cartazes foram removidos logo após a chegada da reportagem. A diretora do colégio, Cindia Carpina Cury, disse que a tarefa ocorreu na última sexta-feira (26), em uma turma do turno vespertino.

“Fui pega de surpresa hoje. Não vi na sexta. A maioria dos cartazes é sobre o Bolsonaro e alguns têm informações sobre homofobia, mas não sei se as crianças têm esse comportamento nem conheço o contexto em que elas vivem”, afirma. A diretora acrescentou que o trabalho da escola tem objetivo de estimular os estudantes ao respeito mútuo. “Não fazemos qualquer tipo de apologia. Inclusive, questões de gênero não discutimos, pois é a família que decide”, contou.

De acordo com Cindia, a professora responsável pela atividade quis saber as opiniões dos estudantes sobre a eleição e não verificou as respostas delas antes de fixá-las no mural. A diretora disse também que vai reunir os alunos autores das declarações e desenhos sobre Bolsonaro, os pais deles e outros docentes para debater o teor da tarefa.

A educadora Andréia Santos, 40 anos, é mãe de um aluno de 7 anos do 1º ano na Escola Classe 2 e demonstra preocupação sobre as respostas. “Os professores devem analisar o tipo de ambiente em que os estudantes vivem, eles são o futuro. Quero meu filho aprendendo coisas boas. Procuro ensinar o contrário, não coisas sobre armas e homofobia. Acho que isso influencia muito na formação das crianças”, afirmou.

A corretora de imóveis Valdenice Moura, 40, engrossa o coro. Duas filhas dela, de 8 anos, estudam no centro de ensino. “Elas já me perguntaram o que são gays. Cabe aos pais e professores explicar. Não existe criança boba. Acho que os cartazes não deveriam ter ficado no mural, mas não acredito que os professores passaram a eles essas informações”, disse.

Debate

A psicopedagoga Luciane Oliveira salientou a importância de se analisar o contexto social e familiar no qual os estudantes estão inseridos. “Não podemos simplesmente criticá-las. Crianças reproduzem o que ouvem sem nem saber o que realmente significa. Elas podem associar a figura do Bolsonaro a arma, mas não quer dizer que tenham essa posição crítica em relação a ele”, explicou.

A especialista reforçou a necessidade de discussão entre professores, alunos e familiares. “A escola é um espaço aberto, temos de ouvir e discutir para entender o nível de pensamento das crianças e desconstruir algumas ideias, o que estão trazendo de casa”, destacou.

Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não houve denúncia referente aos cartazes fixados em seção eleitoral.