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Interior

14/12/2021 16:45

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Estudante aciona PM para professora que "falou mal" do agronegócio em escola de Bonito

A docente foi acionada pela prefeitura da cidade para dar explicações sobre o assunto ministrado em sala

Professora de geografia da Escola Estadual Bonifácio Camargo Gomes, em Bonito, teve uma aula gravada por uma aluna no dia 19 de novembro. As imagens foram compartilhadas com a Polícia e com a prefeitura da cidade.

Segundo o site O Joio e o Trigo, no dia seguinte à gravação da aula, a professora foi chamada pela direção da escola e informada que uma aluna havia gravado a apresentação.

O pai da estudante denunciou a docente ao prefeito da cidade, Josmail Rodrigues (PSB), que, através da Secretaria de Educação, procurou a escola para pedir explicações sobre o conteúdo apresentado aos alunos.

O responsável pela garota disse que se sentiu prejudicado e que a professora "menosprezou o agronegócio", além de mencionar o fato da educadora ser casada com um indígena, o chamando de "cacique".

No material ministrado aos alunos, estava a matéria "Os números mostram: agronegócio recebe muitos recursos e contribui pouco para o país", publicada pelo site em outubro desse ano.

Acusação de militância

Uma página em uma rede social que fala sobre a cidade divulgou uma mensagem que dizia "tem prof geogragia fazendo militância nas escolas, falando mal das empresas dak (daqui) e agronegócio".

No dia 26 de novembro, uma semana após o ocorrido, a professora pediu para que os alunos da turma onde foi gravada, guardassem os celulares. Na terceira vez que fez o pedido se dirigindo à aluna que registrou as imagens, a menina saiu da sala sem autorização.

Quando a aula terminou, a educadora foi informada que a Polícia Militar estava na escola a pedido da menina, alegando que a professora a teria "coagido".

A ligação para a PM foi orientada pelo vice-prefeito de Bonito, Juca Ygarapé. Um dos policiais acionados participou da reunião entre a direção e a família da estudante.

“É uma interferência muito grande na autonomia do professor em sala de aula”, afirma a docente, que leciona nas turmas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.

Ela destacou, ainda, a menção do pai da garota quanto ao companheiro dela ser indígena.  “Racismo, discriminação e aversão aos povos indígenas e suas culturas”.

Censura

Na análise da Coordenadora Geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, sobre o caso é que houve “um misto de censura, coerção à liberdade de cátedra e da garantia plena do direito a uma educação crítica”.

Ainda de acordo com Andressa, “verificamos o uso do Estado para esse tipo de censura e de avanço do interesse privado sobre o público, quando utilizam a Secretaria de Educação como canal para chegar à pressão na escola, junto à professora”.

O episódio se assemelha ao ocorrido em diversos Estados do país, como o da professora na Bahia, que foi intimidada pela Polícia após uma aluna denunciar "conteúdo esquerdista".

Para a coordenadora, a situação é o resultado “dos avanços do conservadorismo no país e, pior, da legitimação da violência por parte do governo federal e de outros governos subnacionais aliados”.

O caso que envolveu a professora em Bonito deve ser levado à Corregedoria da PM e, também, a judice, segundo Andressa. “Já que é um caso que precisa ser analisado quanto ao autoritarismo, intimidação, intervenção em um espaço e ação pedagógica e de defesa de interesse privado. Ainda, é necessário que a professora seja colocada em uma situação de proteção contra potenciais escaladas de ameaças e violências contra ela”.

Apoio do Sindicato

A professora pediu apoio ao Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação (Simted) de Bonito e à Federação dos Trabalhadores em Educação do Mato Grosso do Sul (Fetems).

Ao jornal, o presidente da Fetems, Jaime Teixeira, destacou que no dia 15 de dezembro será lançada uma moção de repúdio ao “setor organizado que segue defendendo a lei da mordaça”, no Mato Grosso do Sul, se referindo ao projeto "Escola sem Partido", que defende a ideia de um "ensino neutro".

De acordo com o presidente, esse não é o único caso envolvendo censura. "Houve mais dois casos", afirmou.

“Queremos uma escola laica, democrática. E esses casos também demonstram machismo”, afirma ele, que disse que a federação está à disposição para dar apoio jurídico à professora.

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