A+ A-

terça, 21 de maio de 2024

Busca

terça, 21 de maio de 2024

Link WhatsApp

Entre em nosso grupo

2

WhatsApp Top Mídia News
Algo mais

09/11/2023 11:43

A+ A-

Top Literário: Flores para Algernon questiona inteligência e sociedade em escrita sensível

Livro começa mostrando a maldade humana sob a ótica da inocência e as (des)vantagens do outro lado do elástico

Em uma linguagem que me remete a ‘O Menino do Pijama Listrado’, Flores para Algernon, escrito por Daniel Keyes, mostra a maldade humana sob a ótica da inocência e depois questiona o que é inteligência e qual a sua importância de forma sensível e doce. Impossível não se emocionar nessa história que é um clássico da literatura mundial.

Nesta obra, Charlie é um adulto com deficiência intelectual, retardado conforme a descrição do livro escrito em 1966. Seu maior sonho é ser inteligente para fazer amigos e entender o jornal, participar ativamente das conversas. Pena que, com a conquista de seu objetivo, ele passa a lidar com o que há mais de abjeto no ser humano: o preconceito.

A história é narrada em primeira pessoa. Conhecemos Charlie e acompanhamos sua evolução através de relatórios entregues a um grupo de cientistas que realizou uma cirurgia inédita no cérebro do jovem. A progressão é mostrada de forma sutil, através de melhorias na gramática, ampliação do vocabulário e aumento de percepção de mundo da personagem principal.

A tragédia é eminente e também inevitável. Como um adulto que prevê os erros de uma criança em aprendizagem, o leitor acompanha a tomada de consciência de Charlie impotente diante das barbaridades promovidas pelas personagens secundárias. É ver uma criança sendo judiada e não poder gritar com seus agressores. Brutal.

No entanto, conforme Charlie evolui e até ultrapassa a inteligência dos médicos que o operaram, passamos a refletir sobre o outro lado do elástico. Como a consciência sobre si e sobre a sociedade pode ser torturante e como, ao experimentarmos os sabores do conhecimento, acabamos nos tornando egoístas, autocentrados e nos isolamos do outro.

Se, antes, Charlie era indefeso e carinhoso, ele passa a ser amargo e arrogante, com a percepção de que as pessoas que admirava não passam de impostoras. Ao mesmo tempo, há o amadurecimento emocional, esse em ritmo lento perto de um cérebro tão capaz. Nos faz questionar se a inteligência é assim mesmo tão valiosa se não formos capazes de usá-la para um bem maior ou se perdermos a empatia para com as pessoas que nos rodeiam.

É quase uma ilustração da parábola de Salomão. Sabedoria é tão ou até mais importante que inteligência. Um QI alto - considerando que esse era o único indicador de inteligência avaliado quando o livro foi escrito - não resolve problemas mais elementares para se sobreviver ao labirinto da vida: o controle das emoções. 

A história ensina muito sobre capacitismo, nos coloca na pele de alguém com deficiência intelectual, passando por cada sentimento elaborado pelo autor. Mas também funciona como uma alegoria para a vida. Nascemos com um mundo de informações a conhecer, vamos ávidos por mais e mais, atingimos nosso ápice e, aos poucos, vamos perdendo tudo, talvez não de forma tão acelerada, mas constante. Uma mente sagaz começa a ter problemas de memória até ficarmos senis.

Com certeza um dos meus livros favoritos. Por favor, deixem flores para Algernon.

Flores para Algernon

Loading

Carregando Comentários...

Veja também

Ver Mais notícias
AMIGOS DA CIDADE MORENA ABRIL NOVEMBRO