Pressionado, o Ministério Público Estadual se pronunciou oficialmente sobre a suposta 'compra' de testemunhas feita pelo ex-prefeito Alcides Bernal, do PP, durante a investigação da Operação Coffee Break. O órgão nega a situação, expostas em áudios, e diz que partes dos envolvidos citados na matéria estão ligados a outra operação, a ADNA. O MPE diz ainda confiar na 'opinião pública' contra a criação de 'factóides'.
Conforme a denúncia, em dezembro de 2015, o jornalista Carlos Alberto Pereira, que trabalhou diretamente com o ex-prefeito Alcides Bernal no inicio de sua gestão prestou depoimento voluntário na Câmara dos Vereadores dando informações de como Bernal teria “induzido” o Ministério Público Estadual a investigar supostas ilegalidades relativas à cassação de seu mandato. Pereira contou que foi a 29º promotoria acompanhado de Bernal e do vereador Cazuza para protocolarem o pedido de investigação que posteriormente se transformou na Operação Coffee Break.
Carlos Pereira afirma que assinava todos os documentos e deu uma procuração para o ex-prefeito, pois considerava Bernal seu “amigo” e confiava que seriam para situações valiosas para o município. Segundo a denúncia, Carlos se revoltou ao saber que estava sendo usado pro Bernal para voltar ao cargo.
O MPE afirma que "a pessoa de Carlos Roberto Pereira nunca protocolizou qualquer representação no GAECO (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado)". A reportagem citou que o primeiro documento protocolado no MPE sobre as irregularidades na cassação do ex-prefeito Alcides Bernal, assinado por Carlos Pereira, apresentou como testemunhas Fabiano de Oliveira Neves, Marly Pereira de Campos, Jefferson Vitorino e Anny Cristina Sales.
Em resposta, o MPE afirma que "as pessoas de Marly Pereira de Campos, Jefferson Vitorino e Anny Cristina Sales não foram ouvidas no procedimento investigatório criminal nº 18/2015-GAECO (Operação Coffee Break). As referidas pessoas foram ouvidas no ano de 2014, no procedimento investigatório criminal nº 02/2014-GAECO (Operação Adna), mais de um ano antes da abertura da investigação da Coffee Break". E emendou afirmando que "os depoimentos prestados pelas testemunhas na fase de investigação (caso Adna) foram confirmados em Juízo, mesmo quando submetidos aos questionamentos da defesa dos réus".
Na publicação, o TopMídiaNews revelou que, Fabiano de Oliveira Neves, guarda municipal e motorista de Gilmar Olarte na época da prefeitura, foi uma das testemunhas chaves da operação Coffee Break, por expor as articulações e o oferecimento de vantagens visando a cassação de Alcides Bernal do cargo de prefeito de Campo Grande. Ele apontou que uma chácara e a casa de vereadores eram usados como pontos de encontro desde meados de 2013, para as nomeações.
Em resposta, o MPE afirma que "Fabiano de Oliveira Neves prestou depoimento na Polícia Federal acerca dos fatos envolvendo a Coffee Break. A Polícia Federal remeteu cópia das declarações ao GAECO, que diante das informações colheu o depoimento de Fabiano Neves, os quais se deram nos mesmos termos do depoimento prestado na PF. No aludido depoimento não há menção aos dizeres constantes nos áudios veiculados".
Sobre o fato em que Fabiano de Oliveira Neves disse ter mentido aos promotores por que esperava ser recompensado por Bernal com uma nomeação de cargo e através de compensação financeira. Como Bernal não cumpriu o combinado, Fabiano retornou ao MPE e alterou o depoimento.
O MPE esclarece que, "meses depois de prestar depoimento a PF e ao GAECO, Fabiano Neves buscou apenas este último órgão para se retratar. Ou seja, não fez menção de retratar o depoimento prestado na PF, apesar de idêntico o teor". E que, "ouvido pela terceira vez, Fabiano Neves retratou o depoimento prestado anteriormente ao GAECO em apenas dois pontos circunstanciais específicos, mantendo a narrativa em relação ao todo".
E finaliza que, "essas mesmas questões foram veiculadas pela imprensa no início ano de 2016. Portanto, trata-se de fato antigo".
Vereadores
O MPE também se pronunciou sobre a declaração dos vereadores envolvidos, a qual declararam que a suposta 'compra de testemunhas' feita por Bernal derruba Coffee Break, e ainda, sobre o fato do MPE ter se 'empolgado' com ação supostamente orquestrada pelo ex-prefeito.
Em resposta, o órgão afirmou que "a investigação se baseia em vários elementos de prova e não somente em poucos depoimentos. A denúncia se ampara em fato certo que possui enquadramento na norma penal, cabendo, em último caso, ao Poder Judiciário (e não aos investigados) a decisão acerca de seu recebimento".
Por fim, reitera que, "na nossa visão é normal, apesar de censurável, a criação de factóides com o único propósito de desqualificar a investigação. Apesar disso, confiamos no censo crítico da opinião pública, que saberá separar os fatos das conjecturas, sem qualquer embasamento, daqueles que se veem atingidos pelo trabalho do órgão de investigação".